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Sobre sopa de legumes, asiáticos gordinhos, escolher seus problemas e caldas de ameixa

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Eis que volto aqui depois de um bom tempo sem escrever nada. Em verdade ainda estou completamente sem vontade de escrever sobre qualquer coisa, de repente muitos dos problemas que considerava tão grandes há uns tempos tem perdido a relevância. Situações e pessoas que me incomodavam até pouco tempo, parecem estar querendo ficar onde devem ficar: no passado. Não que eu esteja esquecendo as coisas pelas quais passei, acho que ninguém consegue fazer isso e pra falar a verdade não acho natural, experiências de vida, boas ou ruins são um aprendizado grande. Como disse, simplesmente o que antes me perturbava tanto, agora parece bem menos importante na minha escala de coisas com as quais devo esquentar minha cabeça e perder meu tempo.

Um exemplo disso é o fato de que não tenho mais ficado com vontade de xeretar na internet, a vida de antigos amigos e amores (em alguns casos a linha entre os dois, pra mim, sempre foi bem tênue).
Dias atrás, enquanto boiava na piscina do SESC, feito um pedaço de legume num prato de sopa, prendendo o fôlego, olhando os azulejos no fundo e observando o quanto minhas coxas são até que atraentes, me peguei pensando o que estariam fazendo algumas pessoas do meu passado agora, se estão trabalhando, se continuam com seus relacionamentos, se ainda pensam em mim de vez em quando assim como penso nelas, o básico. Foi aí que, alguns segundos antes de emergir pra respirar, me dei conta de que já há algum tempo não tinha interesse em saber de fato essas coisas, pelo menos não mais aquele interesse obsessivo, doentio e autodestrutivo que me movia. E estranhamente sinto como se tivesse mudado de um dia pro outro. Sei que a mudança foi gradativa, como 99% das coisas da vida, mas não consigo mensurar o momento exato.

Até há alguns meses atrás eu ficava entrando nas redes sociais do meu ex-namorado virtual pelo menos uma vez por semana para me atualizar sobre sua vida. Não temos mais contato por escolha minha, ele até que tentou, eu tentei no "começo do final", mas não consegui e achei melhor manter distância. Sempre tive e acho que sempre terei dificuldade em lidar com o abandono ou trocas e esse meu lado acabaria incomodando a ele e machucando a mim. Contudo, como disse, por saudade, ciúme e uma boa dose de inveja ficava insistindo em bisbilhotar a vida dele, saber onde ele ia, com quem estava, até que ponto havia mudado e acima de todo o resto, como estava sua vida amorosa. Felizmente pra ele ótima. Infelizmente pra mim. Pois cada vez que via uma foto ou postagem que me incomodava (basicamente 80% delas) eu passava dias em autopiedade, chorando pelos cantos e lamentando minha vida.
Dediquei um parágrafo inteiro a ele, pois é o exemplo mais recente que tenho, mas a verdade é que tive esse comportamento com a grande maioria das dos amigos que já fiz.



Mas voltando ao presente e a eu boiando na piscina, me peguei surpreso ao perceber que, apesar de estar pensando sobre isso no momento, lembrando e me perguntando sobre ele e sobre outros, estar ali, só de sunga, boiando numa piscina pública cheia de estranhos (e provavelmente com essa gente mijando na água) estava bem mais interessante do que gastar aqueles minutos divagando sobre qual motel de Salvador meu ex frequenta com o namorado ou se transam em casa mesmo. Se aquele antigo amigo do curso técnico que casou com a namorada já teve filhos, se está num bom emprego ou qual a frequência das suas transas por semana. Olhando e admirando o tamanho da piscina embaixo d'água, olhando as belas bundinhas empinadas dos caras discretamente, com os olhos ardendo pelo excesso de cloro, percebi que as minhas maiores preocupações no momento eram comprar uma sunga azul marinho, já que a branca quando mancha de bronzeador fica parecendo que tá cagada e também passar no supermercado e comprar os ingredientes pro meu pudim de côco com calda de ameixas. A propósito, errei drasticamente o ponto da calda, que acabou virando um grude, mas o gosto ficou bom, então tá valendo.


Aprender a conviver com alguns problemas, suas dores e suas perdas não é fácil, eu que o diga, mas de fato, quando você consegue as coisas parecem bem mais leves e fáceis de levar. Não, não resolvi nada, não superei nada, mas a cada dia tem ficado mais fácil escolher com quais problemas vou de fato me preocupar ou tentar resolver. Adoraria não ter de resolver nenhum, apenas trabalhar em paz, comer, dormir, passear e ver meus vídeos do XVIDEOS com asiáticos gordinhos (amo) em paz, mas a realidade não é assim. Estou lendo um livro muito, muito bacana chamado "A sutil arte de ligar o foda-se" e ele tem me ajudado bastante a rever alguns de meus conceitos e a ordenar melhor minhas prioridades. Nele, Mark Manson afirma (e eu concordo) que o grande problema da vida é querer não ter nenhum problema na vida, acreditar que a felicidade é um objetivo a ser alcançado e ver suas adversidades como algo antinatural. Gostando ou não, a vida é basicamente um amontoado de problemas a serem resolvidos, alguns graves, outros nem tanto, mas que o segredo para se levar uma vida um pouco mais calma e perceber que, não importa quantos problemas você resolva, sempre surgirão novos. A nós não cabe tentar evitar os problemas, mas simplesmente decidir quais deles resolver em primeiro lugar por ordem de facilidade e prioridade.

Não, essas informações e minha concordância com elas não me transformaram em um monge budista, mas tem me ajudado bastante. Minha mãe por exemplo tem sido um problema bem chato de se lidar, pois infelizmente envelheceu mal, tanto fisicamente quanto mentalmente e isso tem dificultado demais a vida dela e, consequentemente a minha, já que ela acabou se tornando uma pessoa arrogante, prepotente, mal humorada e com conversas na maioria das vezes desagradáveis, sempre reclamando da vida, das coisas, das pessoas e culpando todos pelos seus problemas, menos a pessoa que realmente importa, ela mesma. Tivemos uma discussão recentemente por telefone por conta disso e ela está a mais de uma semana com raiva. Mais dia, menos dia os ânimos se acalmam, mas no momento o clima anda bem pesado entre nós dois. Daqui uns dias ela vira dormir em casa, pois precisará ir ao médico, provavelmente não vai querer olhar na minha cara e, se me dirigir a palavra provavelmente vai ser bem grossa e monossilábica. Isso me desgasta pra caralho, mas é complicado dar o braço a torcer, já que ela dramatiza tudo, é extremamente vitimista e alimentar esse comportamento só vai piorar a situação. Dos problemas que me causam dor de estômago, esse ocupa o primeiro lugar no ranking, contudo por mais que eu saiba que me falta um pouco mais de boa vontade pra encarar a situação, esse tipo de problema complica, já que é algo que não depende apenas da minha mudança, mas da dela também. E sinceramente, na idade em que ela está e pela forma como ela encara a própria vida, creio ser muito difícil que ela perceba que boa parte da mudança que melhoraria sua vida precisaria partir dela.




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