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Sobre crises nervosas irreversíveis, asiáticos gordinhos e um esforço recompensado.

sexta-feira, 14 de junho de 2019



Acho uma falta de inspiração desmedida ficar citando ditados clichês, mas tem momentos nos quais não conseguimos nega-los mesmo. No caso de hoje, o nosso velho conhecido “há males que vem para o bem”.
No final do mês passado uma de minhas colegas de trabalho pediu demissão por problemas familiares que a obrigaram a voltar para sua cidade natal. Ficou chateada, mas infelizmente esses são imprevistos que acontecem vez ou outra no decorrer de nossas vidas. Não questionamos muito seus motivos porque, afinal, a menos que você seja muito íntimo da pessoa, os problemas familiares dela não te dizem respeito.
Numa segunda-feira, quando ela nos comunicou sua decisão ficamos todos surpresos e preocupados não apenas por ela, mas por nós também, afinal nosso setor é pequeno, conta com poucas pessoas e estamos com bastante sobrecarga de trabalho. Por mais que tenhamos compreendido seus motivos, não conseguimos deixar de pensar como é que conseguiríamos fazer nossos trabalhos, cumprir nossas funções específicas e ainda lidar com as demandas que competiam a ela. Os únicos dois designers do setor éramos ela e eu, sendo que eu, apesar de ser mais velho, tenho menos experiência na profissão. Tentei não demonstrar muito, mas entrei imediatamente em pânico assim que ela nos comunicou que iria deixar o emprego. Nervosismo e ansiedade foram constantes naquela semana para mim. Não conseguia dormir direito, comer direito e fui obrigado a passar alguns dias na base de calmantes fitoterápicos, pra não deixar que todo esse pânico me fizesse cair doente. E como acontece em muitos empregos, o lema onde trabalho é meio que “se vira nos 30 e boa sorte, você vai dar conta do recado”. Bem, muito motivacional na teoria, mas na prática são outros quinhentos. Cada um sabe de si e eu sei bem como ajo sob muita pressão. Quer dizer, será que sei mesmo?
Dias antes da saída de minha colega foi anunciada uma campanha grande. A Universidade vai abrir novos polos EAD em várias cidades pelo país e várias peças gráficas precisariam ser feitas em um prazo muito curto, e mesmo ela estando aqui, já estávamos muito preocupados em se iríamos conseguir essa proeza ou não. Listamos todas as demandas, as “deadlines” e nos preparamos para dias vindouros estressantes e bastante corridos. Alguns dias depois disso ela anunciou seu desligamento da empresa.
Eu, que costumo usar meus banhos para me masturbar fantasiando com asiáticos gordinhos, ao invés disso aproveitei pra chorar horrores e pensar no pior cenário possível dessa situação: Eu não conseguindo entregar nenhum trabalho a tempo, sendo demitido e a universidade falindo por minha culpa. Além de claro, eu sendo internado em um hospital sofrendo de uma crise nervosa irreversível.
Todavia é do conhecimento de todos, ou pelo menos de pessoas com um grau um pouco maior de instrução que o tempo não para e de uma forma ou de outra algumas coisas tem que acontecer, quer você goste ou não, então, dias depois da saída de minha colega me vi sozinho, com uma importante campanha nas mãos e um prazo de poucas semanas para entrega-la sem erros. Por sorte essa minha colega já havia deixado algo começado, uma ideia que tivemos juntos mas que ela acabou sem tempo para desenvolver melhor. Decidi que o melhor a fazer era continuar seguindo por esse caminho. Enquanto outra de minhas colegas me ajudava levantando os orçamentos para os materiais eu cuidava de criar as peças. Foi estressante, foi cansativo, tivemos algumas alterações, mas para minha surpresa, no geral o trabalho foi aprovado quase que de imediato. Digo que fiquei surpreso porque é de minha natureza me subestimar, nunca acho meu trabalho bom o bastante, mas todo mundo gostou muito, elogiou bastante, inclusive a própria reitora da Universidade. É o tipo de coisa que me faz lembrar que certos esforços, enfrentar certas situações difíceis valem muito a pena, pois a sensação de vitória ao final é revigorante e nos dá incentivo para tentar melhorar ainda mais.
Consegui aprontar todos os materiais requisitados e já os enviamos para produção. Dentro de algumas semanas minha arte estará aparecendo em outras cidades do Brasil e também em vários outdoors espalhados aqui pela cidade de Bauru. Estou extremamente ansioso por isso. Vou bancar o bobo, tirar fotos e tudo o mais. Parece exagero eu sei, até mesmo um pouco infantil, mas eu me dou esse direito, o direito de me sentir feliz pelas minhas realizações, as grandes e as pequenas, ainda mais quando eu de fato me esforcei para que elas acontecessem.
E caso tenham interesse em ver uma prévia de como ficou esse trabalho, acessem meu portfólio no Behance e dêem uma olhada.
Sim, estou num dos meus raros momentos de satisfação e ótima autoestima.




2 Divagações

  1. Parabéns Eduardo, tudo de bom, nessa sua nova jornada, algumas vezes duvidamos na nossa capacidade, mas a vida tá aí, pra nos mostrar que podemos nos surpreender com nós mesmos.

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    1. Muito obrigado. De fato Carol, eu sou uma pessoa com um complexo de inferioridade ainda muito grande, por isso sempre me surpreendo quando algo positivo assim acontece na minha vida.

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