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Sobre novelos de lã, centelhas de coragem e as melhores férias da minha vida até então.

sábado, 4 de janeiro de 2020


Quem me conhece sabe que não me importo muito com datas comemorativas, isso inclui viradas de ano. É, particularmente pra mim, irritante observar as pessoas durante os meses de dezembro e janeiro agindo como se a mudança de um ano para outro fosse algo mágico, místico, que mudanças significativas fossem acontecer apenas porque um mês terminou e outro começou. “2019 foi um ano difícil, mas com certeza 2020 vai ser melhor”. Oras, por que? Astrologia, numerologia, destino? Assim como depois de maio vem junho, depois de dezembro vem janeiro e até o mundo acabar vai ser assim.


Pensemos nas unidades de medida, de tempo, metros e minutos. Não foi o universo que as inventou, não foi um ser superior. Em dado período do planeta inventamos tudo isso, não é como se Deus abrisse os braços e bradasse “Faça-se o metro, ele terá 100cm”. Portanto, vendo por esse ponto, a mudança do dia 31 de dezembro de determinado ano para o dia 1 de janeiro do próximo, nada mais é do que a passagem das horas, dos minutos, do planeta Terra completando mais uma rotação em torno do sol. Então sim, acho idiota e desnecessário esse otimismo descabido, essa esperança vã de que esse acontecimento vá mudar algo no mundo. Tanto é que, mal começamos 2020 e a ameaça de mais uma guerra paira sobre o mundo. 


Todavia embora tenha começado esse texto de forma pessimista e até um pouco arrogante na opinião de alguns (não que eu me importe, na verdade cada dia menos), acredito que por mais bosta que consideremos certos períodos de nossa vida, separem isso em anos se lhes deixar mais confortáveis, é fundamental conseguirmos enxergar as coisas boas que nos acontecem. “Não existe destino exceto o que fazemos para nós”, já disse Sarah Connor em “O Exterminador do Futuro 2”. Acredito que a vida seja apenas uma sucessão de acasos, coincidências que culminam hora em resultados negativos, hora positivos. Não temos controle sobre isso de forma alguma e o que nos resta é decidir como agir diante de cada situação que nos é apresentada, seja boa ou ruim. A forma com que lidamos com as aleatoriedades da vida determina nosso sucesso ou fracasso, alegria ou tristeza.


No meu caso em particular, apesar de ter considerado 2019 um ano em sua maior parte difícil de se lidar, também o vejo como um período de tempo no qual tive coragem de tomar algumas boas decisões que me fizeram bastante feliz e de algum jeito conseguiram me mudar um pouco para melhor, mesmo que essa mudança seja imperceptível aos olhos dos outros. Aliás, uma dessas mudanças foi justamente parar de me importar tanto em mostrar aos outros minhas mudanças, minhas melhoras. Sempre me preocupei com isso, em mostrar aos outros o quanto posso ser legal, o quanto sou bondoso, amigo, solícito no que está ao meu alcance. Demorei bastante pra perceber que ninguém está se importando muito com isso e no quanto de energia tenho dispersado com essa atitude. Sou como sou, com minhas qualidades e alguns defeitos e estou de fato cansado em me desculpar por isso, em tentar ser mais o que as pessoas esperam de mim.


Das excelentes decisões que tomei em 2019 e das quais me orgulho, duas se destacam. Para alguns, a maioria, são decisões de merda, de pouca significância, mas pra alguém como eu, com minha bagagem, foram uma superação, pois sim, ainda agora aos 43 anos ainda tenho medo de muitas coisas da vida e me falta coragem para fazer coisas simples, as quais muitos fazem facilmente. Acho que é por isso que, quando realizo algo, fico esperando tão ansiosamente que os outros se animem por mim, me parabenizem, mas isso não acontece ou vem de uma forma quase nula, afinal, como disse, certas coisas são rotineiras para alguns.


Em janeiro de 2019 tive a oportunidade de conhecer o mar pela primeira vez e quase recusei. Quando recebi o convite das minhas primas quase morri de ansiedade, medo, insegurança. Talvez vocês se perguntem “Oras, medo de que? Qual é a dificuldade em comprar passagens, pegar um ônibus e viajar pra praia?”. Bem, pra mim muita, muita mesmo. Sempre que sou desafiado a fazer algo que nunca fiz eu entro em pânico, penso em desistir, tenho vontade de chorar e todo tipo de sintomas físicos que vocês possam imaginar. Ao menos meu intestino solta e vou bastante ao banheiro. Ponto positivo. Por sorte, depois de muito relutar aceitei o convite. Uma de minhas primas teve de viajar comigo, mas vejo isso como um detalhe. Quando crianças aprendemos a falar ouvindo e convivendo com humanos já falantes, creio ser assim com a maioria das coisas da vida, salvo algumas exceções.


Há mais de 10 anos fiz um amigo virtual através deste blog, um rapaz de Juiz de Fora – MG que se identificou demais comigo, com as coisas que digo. Não demorou muito para que ficássemos grandes e íntimos amigos. Ao longo desses anos discutimos várias vezes, nos afastamos por algum tempo, mas é uma daquelas coisas que quando é pra ser, é pra ser. A amizade foi ficando mais forte a cada dia, mas apesar disso nunca nos vimos. Além da distância, nossas personalidades, os medos, inseguranças, traumas não nos deixavam tomar decisões capazes de promover um encontro real. Apesar disso era como se já nos conhecêssemos pessoalmente desde criança. Seria hipocrisia de minha parte eu atribuir isso ao destino, já que não creio em tal coisa. O acaso é como um novelo de lã emaranhado, com linhas que se cruzam, entrelaçam e enroscam. E às vezes esses fios se cruzam de forma forte. Se conversávamos sobre nos ver pessoalmente? Sempre. Se tínhamos condições ou coragem pra isso? Não.


Há alguns anos conheci outro garoto aqui da cidade mesmo e acabamos amigos, nos encontramos algumas vezes e com o tempo eu o apresentei ao meu amigo de longe. Não demorou muito para que os dois se apaixonassem, o que de início causou uma grande crise de ciúme em mim, afinal sou carente, gosto de atenção e odeio me sentir sobrando. Quando meu jovem amigo daqui da cidade decidiu ir embora para Minas Gerais para que eles ficassem juntos e me informou sobre isso, confesso que não gostei nada da ideia, me senti colocado de lado e, por um tempo tentei tirar da cabeça dele essa maluquice, falando sobre tudo o que podia dar errado nessa empreitada. Mas como sempre digo, podemos controlar apenas nossa vida, nossas decisões, não temos poder sobre o outro ou direito de obriga-lo a fazer o que nós achamos que é melhor. E então ele foi.


Demorei um tempo para me acostumar com a ideia, eles sabem, sempre conversamos muito francamente sobre tudo e nunca escondi deles o meu ciúme, até mesmo minha inveja pela felicidade do casal. Já perdi amigos sendo franco assim, sinceridade demais magoa, machuca, ofende e me abrindo com eles da forma que me abri corri um grande risco de mais uma vez repetir erros do passado, afastar pessoas que me querem bem por mostrar a elas o meu lado mais chato, mais sombrio.


Sou da opinião que coleguismo e amizade são coisas bem distintas, ao passo que a linha entre amizade e amor, se bem estabelecida é tênue e acontece em casos raros. Um colega pode te dizer, por exemplo, quando você reclama do valor de uma entrada no circo, pra comprar o lugar mais barato e sentar sozinho então, separado do grupo. Já um amigo, alguém que você sabe que realmente se importa, realmente te conhece, diante do seu pânico, da sua negatividade, de todos os empecilhos que você coloca, pode vir e dizer “Olha, eu sei que você está com medo, sei que você vai inventar todo o tipo de desculpa para não vir, não aceitar o convite, mas saiba que eu e o Raphael ficaríamos muito, muito felizes se você decidisse vir passar as férias conosco e finalmente conhecer o seu amigo de longa data pessoalmente”.
Sou o tipo de pessoa que se ofende com muito pouco, um defeito meu que preciso perder, pelo meu bem, não o dos outros. Em contrapartida também preciso de gestos muito pequenos para sentir uma felicidade sem tamanho e muitas vezes ouvir as palavras certas para buscar em mim a coragem de tomar decisões e fazer melhorias. Saber que é de fato amado é mais importante do que muita gente julga.


Claro que diante do convite entrei em pânico, como os dois previram, comecei a pensar em todo tipo de desculpa pra recusar o convite: Minas Gerais é longe demais, vou morrer num acidente na estrada, vou me perder em alguma cidade, vou atrapalhar o casal, enfim, uma lista interminável. Mas a vontade de tomar uma decisão diferente, de ter coragem e principalmente a possibilidade de conhecer meu amigo tão amado me fizeram aceitar. Tive pânico, insônia, perdi o apetite, quase caguei nas calças, mas sim, decidi ir. E como já era de se esperar isso só me trouxe benefícios, felicidade e entrou oficialmente para o hall das melhores decisões que tomei na vida.
A viagem foi longa, cansativa, mas linda, foram dias maravilhosos na cidade de Juiz de fora, com duas das melhores e mais amadas pessoas que a vida poderia ter colocado no meu caminho. Pessoas com as quais posso ser eu mesmo, me sentir livre, ter a atenção que eu sei que mereço e dar o carinho que gosto de dar, ver esse carinho aceito por eles e devolvido de forma recíproca. Poder sentir que realmente eu estar ali, com eles, fez toda a diferença. 


Passeamos, comemos, rimos, conhecemos lugares lindos, pessoas bacanas e tudo isso me fez perceber o quanto posso fazer mais, ser mais, bastando apenas ter coragem de tentar. Por isso agradeço aos meus amigos amados, Danilo e Raphael pela felicidade que me proporcionaram, tão maior do que vocês podem mensurar, por me mostrarem que apesar de tudo, mesmo eu sendo como sou, consigo ser amado, consigo ser aceito. Saibam que essa lição pretendo levar comigo e usar essa experiência maravilhosa como fonte de força e coragem para o que mais tiver de enfrentar no futuro. Não digo que vai ser fácil, não digo que estou mudado, transformado, mas essa centelha que vocês, com seu amor e sua amizade acenderam em mim, de minha parte prometo que vou fazer força para mantê-la queimando. Obrigado, obrigado. Para vocês, DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO, toda a felicidade do mundo.









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