0

Sobre efeitos colaterais já esperados, finitude inevitável e corredores de supermercado

quarta-feira, 7 de julho de 2021

No vindouro mês de agosto, um dia depois do meu aniversário, se tudo der certo vou tomar a segunda dose da vacina AstraZeneca. Tomei a primeira dose no início de junho e apesar de ter sofrido alguns efeitos colaterais já esparados, eles foram leves e sinceramente quase não me incomodaram. Além do mais, como disse um amigo meu, melhor passar mal do que morrer de COVID. Tenho profundo ódio por pessoas que são contra a vacina ou que ficam escolhendo qual delas quer tomar, como se estivessem num corredor do supermercado. Quem pensa dessa forma se justifica evocando seu livre arbítrio, mas no caso dessa pandemia, quando suas escolhas colocam em risco a vida de outros, aí você é um idiota egoísta mesmo.

Apesar de estar feliz por já ter sido inoculado, continuo preocupado, pois seja como for, mesmo depois de vacinados ainda devemos seguir as normas de segurança. Também estou de saco cheio disso igual a todo mundo, não se enganem, adoraria não ser mais obrigado a usar máscara de proteção o tempo todo, manter o distanciamento social, mas mesmo com o processo de vacinação em andamento a pandemia continua e todo o cuidado é pouco. Recentemente os pais do meu melhor amigo foram contaminados, mesmo já tendo tomado as duas doses da CoronaVac, fato que me deixou bastante revoltado e desanimado. Tanta ansiedade, tanta espera e mesmo depois de tomar a vacina ainda pegaram COVID. Óbvio que, morando com os pais, meu amigo também foi contaminado. Ele e a mãe já estão melhorando, o pai teve de ser internado, mas por sorte não precisou ser entubado, ainda assim estou bastante nervoso, pois mesmo não demonstrando, tenho um carinho e uma gratidão muito grande por ele e os pais, que sempre me ajudam quando preciso.

Sei bem o quanto essa situação é desgastante pois, recentemente passei por algo semelhante com minha tia, com quem moro. Há alguns dias ela me ligou no trabalho, visivelmente alterada me pedindo para voltar pra casa imediatamente, pois estava passando mal com com a pressão já acima dos 23, mesmo tendo tomado seus remédios costumeiros. Larguei tudo e fui correndo pra casa, de lá fomos no UPA do bairro vizinho e lá ficamos até quase meia-noite, pois obviamente demorou horas para sermos atendidos e quando fomos, tudo o que fizeram foi colocá-la no soro com remédios que lhe fizeram mais mal do que bem, baixando sua pressão para menos de 10.
Ela já está normalizada, tomando uma medicação mais forte, também comprei um aparelho eletrônico caseiro para ela aferir a pressão sempre que precisar, mas depois desse episódio ela ainda ficou uma semana um pouco derrubada, sem forças.

Embora não goste, o acontecido me fez passar vários dias refletindo como vou reagir quando de fato vier a perder tanto ela quanto minha mãe. Ninguém gosta muito de falar ou pensar sobre a morte, mas o fato é que mais dia menos dia todos nós vamos morrer, é algo inevitável. Por mais medo que tenhamos não vamos escapar disso não importa o que façamos. Não que saber disso ajude a encarar a morte com mais naturalidade, alguns até conseguem, eu não, mas ter medo da simples menção da palavra não vai te tornar imortal, como na antiquíssima canção da extinta dupla Sandy e Júnior.

Minha mãe e minha tia já têm uma certa idade, têm a saúde comprometida, se entopem de medicamentos e apesar de estarem bem na maior parte do tempo também passam por períodos bem ruins. Ter de assistir a tudo sem poder ajudar de forma realmente eficaz me desgasta demais, mental e fisicamente. No dia em que tive de ficar com minha tia até de madrugada no UPA, voltei pra casa destruído, com dores no corpo, na cabeça, enjoo e uma tristeza muito grande, pois enquanto fiquei sentado por horas esperando minha tia ser liberada, pude ver o entra e sai de pacientes no local, muito deles aparentemente bem humildes, sofrendo das mais diversas enfermidades. Você fica observando isso por muito tempo e começa a perceber o quanto somos finitos e frágeis, prestes a sucumbir pelos mais diversos motivos, alguns de nós tão tristes e sem esperança que chega a doer. Penso que, quando chegar a hora de eu encarar a perda, vou ter de ser muito forte, mais ainda do que já julgo ser. Vou precisar continuar, trabalhar, estudar, cuidar de mim mesmo, até que chegue a minha vez de ir.

0 Divagações

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!