1

Sobre pedras nos rins, guarda-chuvas, tempo livre e pandemia, pra variar.

quarta-feira, 9 de junho de 2021


Mesmo antes do advento da mortífera pandemia de COVID-19 eu já enfrentava problemas em lidar com minha solidão, carência e isolamento. Não me considero uma pessoa desocupada, mas no meu tempo livre sempre busco companhia, conversas e interação com as pessoas que gosto. Não que eu obtenha sucesso nisso. Em minha opinião cada pessoa tem seu jeito de ser e eu, em alguns quesitos sou bem oito ou oitenta. Ou como dizem, preto no branco. Tenho meu horário de trabalho, meus dias de aula e o tempo livre, que são os domingos, feriados, folgas, as noites, E nessas ocasiões me reservo o direito de fazer o que eu quiser, o que muitas vezes é nada. Deitar no sofá e ficar olhando pro teto, desopilando a mente ou refletindo sobre qualquer merda.

Acho justo. Errado seria se eu fosse de fato um vagabundo, sem emprego, sem estudo, vendo a vida passar e sei lá, usando drogas, por exemplo, mas em minha opinião cumpro meu papel: trabalho oito horas por dia, pago minhas contas e ajudo minha mãe e minha tia com as despesas delas. Não que eu mereça um Prêmio Nobel por isso, com certeza tem gente que se esforça o dobro, mas evito pensar dessa forma, afinal não sabia que a vida era uma competição de quem pode mais, embora alguns a vejam dessa forma. Conheço um cara que diz abertamente, pra quem quiser ouvir, que é competitivo e tem orgulho disso, que quer se destacar, ser melhor do que os outros. Isso é ruim? Claro que não! Ter ambições, sonhos e objetivos de vida é bacana, desde que isso não deixe você arrogante e prepotente, o que aconteceu no caso dele.

E embora não me considere um desocupado como já disse, acabo me comparando demais com outras pessoas que abrem mão do seu tempo livre para se dedicarem ainda mais às suas obrigações e responsabilidades. Não que eu queira fazer o mesmo, mas o fato delas o fazerem me incomoda, faz com que eu me sinta inferior a elas. E é chegando nesse ponto que me vejo então preso nesse círculo vicioso, afinal como já disse cada pessoa tem sua personalidade e faz o que achar melhor para si. Da mesma forma que me reservo o direito de não fazer nada no meu tempo livre, o outro tem o direito de aproveitá-lo como bem entender, inclusive trabalhando ainda mais, se quiser. Todavia nesses momento o meu complexo de inferioridade bate forte, pois vejo o outro como alguém infinitamente superior a mim, enquanto eu sou um lixo.

Lendo então este relato talvez você pense: “Oras, se você se sente dessa forma então, ocupe seu tempo livre, adiante seus trabalhos, seus projetos, faça um curso”. Mas o fato é que EU NÃO QUERO! Não tenho sonhos, objetivos, ânimo ou motivações. Estou com 45 anos, não conquistei nada de meu, tenho que ajudar minha mãe e minha tia mais por obrigação do que por compaixão, nunca tive um relacionamento e carrego uma mala pesada cheia de rancores. Basicamente acordo e torço para que o dia acabe o mais depressa possível. Tudo o que faço, faço mais por obrigação do que por prazer. Trabalho porque preciso pagar minhas contas, ajudar minha família, comprar comida. Vou caminhar porque preciso me exercitar minimamente, esticar as costas. Tenho inveja de quem consegue ver a vida por um prisma mais otimista. Inveja e raiva.

É fato que essa pandemia maldita tem acabado com o ânimo de todo mundo. Não poder sair nem pra comer um lanche em segurança é algo que me deixa com os nervos à flor da pele. Tá, há quem esteja saindo normalmente, indo a bares, lanchonetes, cinemas, shopping, mas eu, por enquanto ainda me recuso. Já tomei a primeira dose da vacina e no meu aniversário, em agosto vou agendar a segunda, mas ainda assim não vou me sentir seguro. As pessoas mais ignorantes e mal-informadas acreditam que, com todo mundo vacinado o vírus vai simplesmente sumir, ser erradicado, mas não. Imagine que é como usar um guarda-chuva, ele te cobre e não deixa os pingos te atingirem, mas a chuva continua lá, caindo, você só não se molha ou só se molha pouco. A vacina é meio isso, uma proteção maior contra algo que veio pra ficar. Claro que, com todo mundo vacinado os casos de contaminação vão diminuir, talvez até parar, mas acreditar que o vírus vai se desintegrar no ar, aí já não é nem otimismo, é ingenuidade.

Tudo o que eu queria nesses tempos é companhia, companhia presencial. Alguém pra conversar, rir, chorar junto, reclamar das coisas. Mas é complicado. Há momentos nos quais me julgo uma pessoa muito chata, desinteressante e enfadonha, ao ponto das pessoas preferirem fazer uma operação de remoção de pedras nos rins a estar comigo. Ninguém é muito fã de quem pensa demais, reflete demais sobre a vida, enxerga coisas por ângulos mais céticos ou analisa demais tudo.

1 Divagações

  1. Se quiser conversar com alguém estou disponível, mas já vou avisando que ando tão depressiva quanto vc

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!