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Sobre os laços que nos unem, 8.760 horas relativas e listas de prioridades

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Falta só uma semana para minhas férias e apesar de eu estar contando cada segundo para que esse dia chegue logo e eu possa descansar do trabalho, também estou bastante triste por não ter nenhum plano de viagem para o período. Queria muito aproveitar esse tempo livre me distraindo e me divertindo, fazendo algo diferente da minha rotina, ainda mais agora que já tomei as doses de vacina que sonhei por tantos meses, incluindo a terceira, o reforço tão falado. O problema em questão não vai ser nem a falta de dinheiro, pois se quisesse, juntando um pouco do décimo terceiro e parte das férias conseguiria viajar, fazer uma excursão pequena que fosse, mas o caso é que não consigo me divertir sem companhia. Muitas vezes me pego pensando como me sentiria se ganhasse uma viagem com todas as despesas pagas para algum lugar muito bacana, por exemplo. Creio que uma pessoa normal explodiria em êxtase de tanta alegria, arrumaria as malas cheia de empolgação e embarcaria nessa aventura, mas eu infelizmente não consigo sentir as coisas dessa forma. Minha carência e dependência de companhia sempre fazem com que eu me sinta completamente isolado e solitário caso saia sozinho seja para onde for.

Há alguns anos fui pela primeira vez em um famoso evento de anime em São Paulo. Na ocasião ninguém quis ou pôde ir comigo, então decidi ir sozinho mesmo. Me lembrando hoje de como me senti com essa experiência, posso dizer que apesar de ter gostado do passeio, da viagem, do evento, acima de tudo me senti muito sozinho e desanimado em vários momentos, não tendo ninguém para partilhar essa experiência comigo, andar juntos pelos estandes, assistir aos shows, comer um lanche, conversar principalmente. Lendo isso, talvez você diga que eu deveria ter tentado fazer novas amizades durante a viagem, me enturmar, puxar conversa. Me desculpe, se isso é fácil para você não o é para mim.

No famoso filme “Clube da luta” o protagonista, durante uma viagem de avião fala sobre “amizades temporárias”, não sei se é esse o termo exato que ele usa, mas ele explica sobre essas pessoas com as quais você conversa durante uma viagem e ao descer do avião não as encontra nunca mais durante a vida. Nesse meio tempo você pode até contar um pouco sobre sua vida, ouvi-la contar sobre a dela, mas no final isso pouco importa, porque vocês nunca mais se verão novamente. Há quem diga que isso é válido, que pode render algum aprendizado para ambas as partes, mas no meu caso não consigo me empolgar ou me interessar pelo outro, caso passe por uma situação como a descrita, sabendo que nunca mais terei contato com a pessoa novamente. Conto com a imprevisibilidade da vida para muitas coisas, mas não para isso. Depois de 45 anos e de tanto esperar rever pessoas importantes que já passaram pela minha vida, em vão, a cada dia tenho criado menos expectativas sobre isso.

Ainda parafraseando filmes famosos, no longa “Na natureza selvagem”, próximo da morte iminente o protagonista diz que a felicidade só é real quando é compartilhada com outros. Pessoalmente concordo com esta afirmação. Já tive momentos nos quais me senti feliz ao ponto de querer dividir essa felicidade com alguém, comemorar, mas não tinha ninguém. É uma sensação estranha, pois você está feliz com o que houve, claro, mas ao mesmo tempo sente um vazio e uma solidão muito grandes. Nossa própria felicidade é responsabilidade unicamente de nós mesmos, mas perceber que poucas pessoas se importam, pelo menos para mim é frustrante.

Claro que a pandemia do mortífero Coronavírus, que tantas vidas ceifou, afastou muito as pessoas, até mesmo entes queridos, então me esforço em tentar compreender o quanto todas essas mudanças inesperadas, esse sofrimento, medo e morte mexeram com o psicológico de muitos, mas apesar disso, acima disso ainda prezo demais os laços humanos, o amor, a amizade, a vontade de querer estar junto do outro ou outros, e é nesse último que tenho sentido que as pessoas ficam deixando a desejar. Muitas pessoas quando questionadas sobre isso alegam não conseguirem administrar seu tempo da forma que desejam, não terem tempo o bastante para estar com as pessoas que gostariam de estar, se lamentam por isso e fazem um discurso piegas sobre o quanto o mundo está cada vez mais competitivo, a vida corrida e que a sociedade nos força a lutar para termos uma vida estável e o caralho a quatro. Na minha opinião, e não estou afirmando estar correto, não creio que as pessoas não tenham tempo, seja para algo que querem fazer, seja para você, o que acontece é que elas tem prioridades ordenadas em suas vidas e nessa lista, é triste quando você percebe que às vezes não está nem na última linha.

Tenho pessoas das quais gosto muito, sinto muita saudade, vontade de estar junto, mas as quais não vejo pessoalmente há quase dois anos. Em muitos finais de semana tediosos me pego pensando o quanto gostaria de passar somente algumas horas com elas, uma tarde ou noite, um dia que fosse, mas a cada dia tenho percebido que é sofrer em vão, que em verdade me presto a um papel ridículo esperando retorno de pessoas para as quais tenho pouca importância.
Muitas vezes me pego fazendo cálculos de tempo. Um ano, quando não é bissexto tem 365 dias, 8.760 horas e embora tempo seja relativo, do meu ponto de vista é tempo pra caralho, mais do que o suficiente se você quer estar algumas horas que seja com as pessoas de quem gosta. Muitas vezes fico deprimido aos domingos, pensando o quanto gostaria de passar umas quatro, cinco horas que fossem com alguma companhia, conversando, caminhando, saindo pra lanchar. Acho que de 365 dias, 8.760 horas, pedir um dia de tempo que seja da pessoa não é pedir demais, não é encher o saco. Já fiz isso, admito, mas hoje prefiro sofrer calado para não bancar o chato, ridículo e pegajoso, comportamento que já me tirou tanto.

Muitas dessas pessoas só procuram por você quando elas estão necessitadas de algo, quando não tem uma companhia melhor pra sair ou pro sexo, quando por algum motivo elas julgam ter um tempo livre que podem dispensar para você, quando elas estão entediadas ou sozinhas, quando estão nervosas ou preocupadas e não querem bancar uma terapia, mas passados esses "sintomas", elas voltam a sua rotina, às suas prioridades, deixando você lá, como um estepe para quando precisarem e não tiverem melhor opção.

1 Divagações

  1. E aí Eduardo quanto tempo não nos falamos né! De vez enquanto faço uma visita no seu blog, acho muito legal a sua literatura, de como relata sobre as suas DIVAGAÇÕES ou percepções sobre o mundo e as pessoas! Só não concordo que sofra tanto com determinadas situações, que eu acredito deverias encarar como um desafio a ser superado por você! Sabe Eduardo quando comecei a escrever o meu blog, é eu sei tô meio parado de escrever, mas de vez enquanto eu passo por lá para ler a minha própria literatura. risos Mas a questão é que quando iniciei ele PARA TUDO NA VIDA HÁ UMA SOLUÇÃO! foi por sugestão de amigos , porque inicialmente eu era muito introvertido, timidez exarcebada e muitos , diria muitos complexos de inferioridade. O blog me ajudou muito a organizar os meus pensamentos e a falar com mais clareza, e hoje amadurecido e estudante da Psicologia humana, consigo compreender mais sobre mim mesmo, sobre a minha esquizofrenia e da importância de ter conhecido a filosofia budista na minha vida. Ela foi um divisor de aguas! Querido amigo Blogueiro Eduardo, foi bom ter lido o seu blog hoje , pois ele me inspirou e vou escrever algo relativo ou em referência o lado existencial do ser humano e que você se descreve neste texto! Valeu amigo , fique bem, desejo que encontre a paz interior que você tanto almeja!!! Abraços fraternais do amigo japa!!!!

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