1

Sobre o incômodo amanhecer, minúsculas patinhas ásperas. definição de força e calmantes fitoterápicos

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Mesmo agora, durante minhas férias e também nos finais de semana e feriados acordo muito cedo todos os dias, as 5h da manhã já estou de olhos abertos e bem desperto. Notem que eu disse acordo e não “me levanto”, são duas ações completamente distintas. Como a casa onde moro há mais de 30 anos tem somente 3 cômodos optei, já há alguns anos em dormir no chão da sala. Com somente um quarto pequeno disponível, decidi deixa-lo para minha tia, pois ela, mesmo agora com quase 70 anos ainda trabalha com consertos de costura para ajudar na nossa renda, já que dividimos todas as despesas. Então o quarto é o seu lugar de descanso e de trabalho ao mesmo tempo. Além disso, já estou rumo aos 46 anos de vida, sou homem (um homem viado, mas um homem) e me incomoda dividir o mesmo quarto com ela. Durante toda a minha infância dormi na mesma cama com a minha mãe, depois, mais velho, dormíamos os três no mesmo quarto, já em camas separadas, mas como disse, conforme fui envelhecendo já não deu mais. Não ter condições de morar sozinho já é torturante pra mim, já que minha privacidade é zero, então a melhor solução foi passar a dormir na sala, onde coloco um pano sobre o tapete, depois o meu colchão e pronto. Há tanto tempo vivo essa vida que, ter um quarto somente meu, dormir novamente numa cama se tornou um sonho bastante distante, parecendo ser inalcançável.

Apesar de, depois de tanto tempo já ter me acostumado a dormir no chão e não reclamar, não significa que tudo seja sempre normal e natural. Durmo bem na maioria das noites, ajudado é claro por chás e comprimidos calmantes, mas não é incomum acordar algumas vezes sentindo minúsculas patinhas ásperas correndo pelo meu corpo. Mesmo com minha tia tentando manter sempre tudo muito limpo, numa casa velha não é incomum que baratas e outros insetos saiam durante a noite pra dar uma volta. E estando eu deitado no chão, estou no caminho deles. Não, não estou dizendo que vivo num chiqueiro e que durmo com baratas toda santa noite, também não é assim, mas acontece com mais frequência do que eu gostaria. Acho que é por isso que acho tão ridículo quando vejo pessoas fazendo um escândalo quando topam com uma barata ou um inseto muitas vezes bem menor, chegando ao ponto de gritar e quase ter um surto, na verdade quando vejo isso sinto um desprezo imenso pela pessoa. Não que eu simpatize com insetos, tenho medo de alguns sim, de outros tenho nojo, mas daí a berrar e correr como se o bicho fosse te matar só com o olhar, aí já é ridículo. Se ainda fosse um escorpião venenoso vá lá. Estou tão de saco cheio da minha vida e me tornando frio com tantas coisas, pessoas e situações, que se acordo de madrugada sentindo uma barata andando em cima de mim, eu a espanto com as mãos, me levanto e depois mato com requintes de crueldade, imaginando que se trata de uma das pessoas que já me magoaram ou o Jair Bolsonaro.

Lembram que eu disse logo no começo que acordo todos os dias muito cedo, por volta das 5h da manhã? Seria ótimo se isso acontecesse por conta de algum costume saudável de minha parte, mas não, acontece que assim que amanhece, a luz do sol já entra na sala e ilumina bem o ambiente, o que acaba me acordando quase que imediatamente, e depois que eu acordo, a menos que eu esteja fisicamente doente não consigo pegar no sono novamente. O quarto de minha tia é bem escuro, pois as janelas de madeira vedam bem a entrada de luz, embora muito em breve sei que terei dor de cabeça com elas, já que estão caindo aos pedaços, por um fio para se soltarem e aí não sei como faremos para arrumar, já que 1: não podemos quebrar a casa para fazer reformas porque ela não é nossa, moramos de favor e 2: como a casa é muito, muito antiga, as paredes estão em péssimo estado, então, mesmo que pudéssemos, arriscar quebrar qualquer uma das paredes para fazer reformas colocaria em risco toda a estrutura. Então por que nós não nos mudamos daqui você deve estar se perguntando. A resposta é: vai tomar no olho do teu cu. Eu não estaria escrevendo tudo isso se pudéssemos achar um lugar melhor pra morar.

Para resolver o meu problema com a luz da manhã entrando na sala já tentei de tudo um pouco, até aquelas máscaras tapa-olhos, mas não consigo dormir com aquilo na cara, me dá agonia, então cubro a cabeça com um travesseiro e mando ver nos calmantes.
Há alguns dias decidi comprar uma dessas cortinas tipo “blackout”, que dizem vedar a entrada de luz no ambiente. Saí pra fazer uma pesquisa enquanto ainda estou de férias e quase enfartei com os preços. Uma dessas, de boa qualidade está beirando R$ 200,00, o que para os meus padrões é uma fortuna. Acho que é por isso que odeio tanto pessoas que gastam uma fortuna comprando um novo iPhone 13 sei lá das quantas, um tênis de R$ 500,00, fazem ceia farta de natal todos os anos e ainda ousam chegar pra você e reclamar sobre o quanto a vida está complicada e a situação tá preta. Não tenho o menor pudor em dizer que gostaria de vê-las sofrer, na verdade me deliciaria com isso.
Depois de pesquisar muito consegui achar uma dessas cortinas por R$ 70,00, obviamente que de qualidade muito inferior, mas é o que deu pra comprar, o que tem pra hoje. Espero que ela funcione minimamente, vou saber disso amanhã, às 5h da manhã. Em todo caso, por precaução vou continuar com minha xícara de chá e comprimidos calmantes.

Nos últimos tempos tenho estado uma pilha de nervos, mataria alguém se pudesse, pelo simples prazer de matar. Estou insatisfeito com quase tudo na minha vida, trabalho, estudos, vida pessoal, vida sexual, amizades. E a junção de todas essas constantes insatisfações tem se convertido em ódio e falsidade. Ser obrigado a fingir educação, simpatia e bom humor, fingir que acho as pessoas e suas piadas engraçadas quando na verdade minha vontade é arrancar o coração delas com as minhas mãos nuas tem me cansado demais. Estranhamente, diferente da minha mãe que sofre de transtorno bipolar não penso em suicídio, não sei, eu acho uma coisa tão vazia, tão fácil. Fugir é fácil. Eu acho que fazer o esforço de suportar, mesmo quando você já não aguenta mais é a definição de ser forte. Contudo fazer esse esforço, pelo menos para mim hercúleo, cansa, como cansa, e todos os dias quando acordo me pergunto se tem valido a pena.
Além de ter de pensar e resolver os meus próprios problemas pessoais, estou constantemente tendo de esquentar a cabeça com os problemas e necessidade de minha mãe e minha tia. E ao mesmo tempo em que vejo isso como minha obrigação de filho e sobrinho, tentando não as culpar por minha vida estar estagnada como está, a verdade é que elas fazem parte dessa equação maldita. Elas cuidaram de mim a vida toda, costumo dizer a todos que não tenho apenas uma mãe, mas sim duas, contudo é cansativo demais carregar o peso da minha vida, das minhas angústias e frustrações e boa parte do peso das delas.
Eu não sei se tem de fato diferença, na minha cabeça eu sinto que tem, que faz sentido, mas como eu disse eu não penso em morrer, não penso em desistir, mas de alguma forma eu queria que tudo acabasse, sei lá, que simplesmente tudo sumisse, inclusive eu mesmo.





1 Divagações

  1. Por favor não suma, gosto de ler suas memórias, por mais que muitas das vezes suas angústias se tornem minhas, até porque temos muita coisa em comum (leia-se: falta de grana) mesmo que momentaneamente, me identifico com você, e saber que não estou sozinha, já é um alívio. Força!

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!