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Sobre dores excruciantes, horário de verão, deficiência e entregar os pontos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Estou sobrevivendo a esta semana a base de antibióticos e anti-inflamatórios. Meu dente do ciso resolveu incomodar de novo e inflamou de forma violenta toda a gengiva em volta. Tem doído tanto que mal consigo engolir um gole d'água sem gemer de incômodo, além do rosto inchado e de mal conseguir abrir a boca sem sentir dores excruciantes.
Até cogitei em extrair os quatro, já que eles não tem me servido pra nada a não ser causar inflamações periódicas, mas minha ortodontista disse que só poderei fazer isso, durante ou após a cirurgia no meu maxilar. Tomar esses remédios contra a dor e a inflamação tem acabado comigo. Misturados com a ressaca do horário de verão, eles tem me deixado meio dopado o dia todo, odeio me sentir drogado, acho que é por isso que reluto tanto em procurar ajuda psiquiátrica e tomar os tais remédios que dizem que tanto ajudam.
Falando em horário de verão, sinto muito mas não consigo ver uma utilidade muito concreta nele. Você acorda cedo e ainda está escuro e no final da tarde ainda está aquele sol chato em plenas sete da noite. Quando se está de férias ou a passeio é até bom, pois você aproveita mais antes de anoitecer, mas quando se trabalha dá na mesma, afinal, oito horas diárias são oito horas diárias.


Durante o tempo em que trabalhei nos Correios, pouquíssimas vezes me senti discriminado por estar contratado como deficiente, muito pelo contrário, sempre me senti no mesmo nível dos funcionários concursados e a grande maioria dos meus colegas de trabalho assim me tratou. Contudo, lógicamente durante esses oito anos de trabalho conheci pessoas que me deixaram espantado pela sua arrogância e preconceito com pessoas as quais consideram inferiores a elas. Quantas vezes já ouvi funcionários dizendo na minha frente: "Esses deficientes contratados é que tem uma vida boa, ganham um bom salário e trabalham apenas seis horas por dia" ou ainda "A empresa está fazendo um favor contratando essa gente e eles não dão valor nenhum, não fazem nada direito". Fico perplexo em ver que em pleno século XXI ainda existam pessoas tão tacanhas e retrógradas. Muitas vezes por incrível que pareça fui vítima até mesmo da inveja de alguns funcionários que achavam que eu era bem tratado demais para um mero deficiente contratado.
Bom, pra começo de conversa eu sou considerado deficiente pela ciência e pela lei, entretanto nunca me considerei e não me considero deficiente. Apesar de não ter visão no olho direito e a do olho esquerdo ser comprometida, sempre me virei muito bem, enxergo razoavelmente bem e ter apenas uma das vistas jamais me atrapalhou em nada. Tanto é que me tornei um ótimo artista. Porém como eu disse, a ciência e a lei dizem que me enquadro como deficiente visual e já que existem leis que me dão certos direitos, usufruo deles sem culpa nenhuma, sem me sentir melhor ou pior do que ninguém. Se a lei diz que deficientes trabalham apenas seis horas por dia, então assim é que é. Posso trabalhar oito, doze horas por dia como qualquer outra pessoa, não sou inválido nem inferior como já disse, queria poder enxergar perfeitamente das duas vistas como a maioria, mas não posso, não pedi para nascer assim. Então, já que o caso é esse e eu tenho graças a isso, certos direitos, vou usá-los como me é permitido. Se posso trabalhar apenas seis horas por dia, trabalharei sem culpa. Se a lei mudar e disse que posso trabalhar apenas quatro, trabalharei também. Se posso entrar nos ônibus pelos fundos, embora eu não o faça, se um dia quiser eu o farei sem culpa alguma. Se disserem que deficientes tem o direito de comer de graça onde quiserem, tô nessa.


Embora eu viva dizendo a eu mesmo que preciso superar isso, acho que nunca vou deixar de me afetar pelas situações que me acontecem. Cada problema chato que me aparece me faz acabar caindo doente, ou com gripe ou com dores no corpo, dor de garganta ou me estouram um monte de espinhas purulentas na cara. Mesmo lavando meus rosto com os caríssimo produtos da linha Assepxia ® minha cara tá parecendo uma pizza, tudo porque meu emprego já era e isso está me incomodando demais. Eu sempre fui assim desde pequenininho, qualquer mudança radical na minha vida, "capoft", caio doente. Da última vez foi quando deixei o colégio técnico e cortei relações com algumas pessoas. Talvez lendo isso muitos me considerem um fraco, que se deixa abater pelas cousas mais simples, mas não, de uns tempos pra cá eu tenho descoberto em mim uma força que não sabia que tinha, tenho visto que quando pensamos que não temos mais forças, sempre dá pra espremer um pouquinho mais. Depois das tentativas de suicídio de minha mãe, sua internação, das desavenças com as pessoas, da vida complicada e agora com a perda do emprego, minha vontade é deitar no sofá e não fazer mais nada. Ficar deitado lá até a morte chegar e me levar. penso em suicídio a cada três dias e em sumir pro deserto todas as manhãs, mas não, não pretendo fazer nenhum dos dois. Se eu entregar os pontos vou estar dando razão e prazer há algumas pessoas que querem me ver sofrer para que eu aprenda lições que elas julgam que devo aprender. Sou da opinião que é melhor morrer lutando do que entregar os pontos. Talvez algum dia, no meu leito de morte, já velho, eu olhe para tráz e veja que não consegui quase nada na vida, mas pelo menos vou poder fechar meus olhos uma última vez e pensar: "Pelo menos eu não parei de me mover!"







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4 Divagações

  1. Olá meu amigo Eduardo!
    Poxa, nem sabia q vc tinha problemas em um dos seus olhos. Mais como vc mesmo disse, q não vai dar o ar de derrotado, ou vai aceitar q te tratem diferente pelo q se é. E o mais importante de vc é a sua DIGNIDADE e a sua força de vontade vencer, e esta lutanto para conquistar os teus sonhos. Se vc já tinha a minha admiração por ser um lutador, agora q a terá em dobro concerteza. Boa sorte! Bjos.

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  2. Direitos são direitos. A maioria das pessoas que são deficientes fisicas sabem que podem trabalhar como qualquer pessoa. E eu concordo com você que se existe o direito, tem que ser usado.

    Por exemplo... as vezes, a gente está no banco... vendo a fila dos idosos separada e andando mais rápido... e ficamos com raiva... mas além de ser um direito de quem já trabalhou a vida inteira, daqui há alguns anos seremos nós. Se cada um se perguntasse se iria ou não usar essa regalia, ninguém ia falar não. Mas sempre tem aquele um pra reclamar de tudo. Muita gente preconceituosa...

    A vida nos impõe dificuldades, tanto físicas quanto mentais. Mas é melhor nos arrependermos de termos tentado enfrentar, do que de não ter feito nada! Isso é uma forma bonita de viver a vida, mesmo na dor.

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  3. A parte que mais me emocionou foi o final, porque dentes do ciso, cirurgias complicadas, discriminação no trabalho, eu já tive mais que a humanidade junta, mas fiz isso na vida, me mexi, esperneei, gritei!

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  4. Que post lindo, maravilhoso.

    Meu dente do ciso está do mesmo jeito q o seu, nascendo e me matando d dor, estou cm a gengiva horrivel tbm =/ só não estou tomando remedios pq ODEIO eles, mas se continur assim acho que terei. Pra comer é uma tristezaaa e eu que amo tanto comida...rs

    Quanto ao post sobre preconceito, acho completo absurdo ainda existirem pessoas assim, mas tem gente que não evolui, tem gente q coloca certas coisas na cabeça que ngm pode tirar, isso se chama BURRICE, pq esse povo q não evolui continuará sempre no mesmo lugar, estagnado, e deles, só tenho dó.

    E sobre vc, por favor, tire pensamentos negativos, pq te acho incrível, lutador, um dia estive desempregada e me senti da mesma forma q vc se sente no momento, mas quando eu estava prestes a aceitar viver da maneira sem me preocupar ou me matar de cobranças, apareceu o que eu precisava. É só acreditar em Deus e, é claro, em vc mesmo!

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    beijos!

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