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Sobre se aproveitarem da minha nobreza, furtos ao final do dia e pequenos consertos.

domingo, 22 de maio de 2011

Vocês devem estar notando que de uns tempos pra cá tenho atualizado menos o blog. Bem, na verdade não é por falta de tempo, mas sim por falta de assunto. O estranho e irônico é que não tenho achado isso ruim, apesar da rotina de sempre eu mudei muito meu ponto de vista sobre algumas coisas. Continuo pagando absolutamente todas as contas da casa sozinho, mas parei de reclamar, muito pelo contrário, estou até orgulhoso de eu mesmo, de repente comecei a me sentir muito útil. As vezes bate sim aquele cansaço, aquela tristeza, mas já ficou
natural essa situação pra mim, como eu disse antes, é o que no momento eu preciso fazer, não adianta reclamar.
Eu sempre achei que nunca fosse conseguir me afastar das pessoas sem ficar em constante sofrimento, sempre li e ouvi muitos relatos de pessoas dizendo que se afastaram de todos e que não sentem muito mais falta de companhia ou de estarem sempre no meio de pessoas. Me lembro que quando lia/ouvia isso eu pensava: "Que absurdo! Como alguém pode se satisfazer sem estar junto com outras pessoas?", mas hoje vejo como o tempo se encarrega de tudo, se encarrega de ir aos poucos adaptando você à sua nova situação de vida. Existe também o fato de você quando toma distância, conseguir ver a coisa de forma diferente e as vezes se surpreender com a forma como você a enxergava antes. Perceber e sentir isso entre muitas outras coisas novas que venho sentindo está me fazendo naturalmente reclamar menos da minha vida. Sim, ela ainda é chata, monótona, repetitiva, mas acho que sua própria mente cria um mecanismo de auto-defesa para que você não enlouqueça com isso. Ainda quero amigos, ainda quero um amor, ainda quero uma vida diferente, mas até conseguir isso, minha situação atual não tem me incomodado mais. Parei de olhar tanto pra vida dos outros e ficar desejando ter a vida que eles tem, mesmo que a minha não seja 100%, é minha e é dela que eu preciso cuidar. Não que eu ainda não fique animadinho quando fico sabendo que coisas ruins acontecem com gente ruim, como ir mal na prova, ter o cinema cancelado e ser assaltado no final do dia, mas aos poucos o que acontece ou deixa de acontecer com os outros está se tornando irrelevante pra mim.

Bem dizem que quando as pessoas vão envelhecendo voltam a ser crianças e que dependendo do caso, dão tanto trabalho quanto. Minha mãe graças a Deus não chegou a esse ponto e acho que nunca vai chegar, ela sempre foi uma mulher muito inteligente, instruída e mesmo depois de suas tentativas de suicídio e de ser obrigada a tomar os remédios que toma, ela continua bastante lúcida e em alguns casos, mais esperta do que eu. Todavia ninguém pode fugir dos efeitos do tempo, tanto os físicos quanto os mentais e algumas vezes lidar com ela e com suas manias adquiridas depois da velhice exige um jogo de cintura que as vezes acho que não tenho.
As vezes tenho a nítida impressão de que ela se aproveita da minha situação atual para me explorar um pouco. Alguns anos atrás ela sempre jogava na minha cara que me sustentou a vida toda e que eu nunca movi uma palha para ajudá-la em nada, aquele típico discurso de mãe: "Eu te dei tudo, me sacrifiquei por você, abdiquei da vida que eu queria ter e blá blá blá". No começo dava até certo, eu me culpava horrores por isso, mas depois de tomar mais consciêcia de certas coisas e perceber que cada um é responsável por como sua vida está, mesmo um mendigo, eu tirei o peso dessa culpa dos meus ombros e inverti o jogo, passei a mostrar pra ela que, se hoje ela tem uma vida infeliz e insatisfatória é por dois fatores: por todas as decisões que ela tomou e por todas as decisões que ela deixou de tomar.
Porém como disse, hoje me parece que ela se aproveita um pouco dessa nova situação em que se encontra, sem dinheiro pra comprar uma calcinha, sustentada inteiramente por mim. Ela sabe que apesar de toda a mágoa que guardo dela e que não consigo mais tirar do meu coração, nunca vou lhe deixar faltar nada, pois essa é a minha obrigação de filho, o mínmo que posso fazer pra quem me deu a vida. Infelizmente como disse, o faço meramente por obrigação, não mais por amor.


No sábado passado ofereci-me para ir ao centro e comprar todos os aviamentos de costura que estivessem faltando para ela e minha tia. Minha mãe costurou a vida toda mas hoje, já com a cabeça cansada, faz apenas pequenos consetinhos pra ganhar uns poucos tostões e mesmo assim muito sem vontade. O dinheiro que as duas ganham vai pra seus gastos pessoais e principalmente pro cigarro, pois as duas fumam desde a adolescência (acho que foi por isso que nasci tão feio). Quando assumi todas as contas da casa sentei-me com ambas e deixei claro que os gastos pessoais dela seriam responsabilidade delas, com o dinheiro que ganham com os consertos, enquanto todo o resto, água, luz, telefone, supermercado seriam de minha responsabilidade. Lógico que como disse, não posso deixá-las totalmente desamparadas, então as vezes lhes compro outras coisas que me pedem. Minha mãe mesmo precisará de óculos novos, devem ficar por volta de 700 reais e serei eu quem terá que fazê-los, mas enfim, é a vida.
Bom, voltando ao que dizia, ofereci-me pra comprar os materiais de costura de bom grado, pra que pudessem continuar seus concertos e ganhar seu dinheirinho, mesmo que pouco, mas ela, vaidosa como sempre foi, veio sem jeito me pedir pra que ao invés dos materiais de costura eu lhe comprasse uma tintura de cabelo, ela nunca aceitou envelhecer e ter cabelos brancos pra ela causa depressão profunda. Muito a contragosto, pois preferia comprar-lhe os aviamentos, aceitei o pedido dela e comprei a tintura, que aliás nem foi cara, mas o problema na verdade não é o dinheiro, mas sim o senso de prioridades dela, que prefere tingir os cabelos do que se esforçar um pouco mais, ganhar seu próprio dinheirinho e ela mesma ir lá comprar a tinta. É mais ou menos como uma criança mesmo, pra qual você oferece um ovo de páscoa e ela já aproveita para lhe pedir mais coisas da loja. Mas, dos males o menor. De repente posso me tornar um velho bem pior, se é que vou chegar à idade dela.

Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design, além de pseudo-web-designer. É formado técnico em informática e sabe estourar pipoca sem deixar muitos piruás sobrando. Semi-nerd assumido (se é que isso existe), gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


6 Divagações

  1. Oi Eduardo,

    Tive um amigo que não estava nada satisfeito com sua vida. Ele se virou pelo avesso pra conseguir dinheiro e foi viver em outra cidade muito longe de onde ele vivia. Uma vez eu o encontrei e ele me disse "não adianta mudar de cidade". Na hora eu não entendi direito o que ele estava tentando me dizer, mas depois entendi.

    Eu estava de saco cheio da minha vida, quando mudei tudo de repente. Me casei, fui para os Estados Unidos, arranjei um novo emprego, ou seja, foi uma mudança radical. Mas..acredite! depois de um certo tempo, eu estava vivendo lá exatamente a mesma vidinha que eu vivia aqui no Brasil! Aí eu fui entender o que o meu amigo havia me dito anos antes. Não adianta mudar de cidade.

    Quer dizer, não adianta mudar os fatores externos. O lugar, a casa, os amigos, casar, se é provedor ou se é dependente, mesmo se vc mudar radicalmente as circunstâncias da sua rotina atual, depois de algum tempo você vai recriar essas mesmas circunstâncias com outros personagens! Daí a gente pode concluir que a mudança tem que ser interna.

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  2. Lindo post, a vida é dificil muitas vezes, mas tem que ser assim mesmo, o tempo inteiro estamos nos superando e superando barreiras. Faz parte da progressão ...

    bjs!

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  3. kkk... ri do ovo de páscoa! Minha mãe está assim também, afe! Mas a minha além de doente tá difícil de aturar. Infelizmente acho que vou ser uma velha assim, chata! Já sou, né? kk.. abraço

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  4. Eu estou encantada por suas divagações!
    Seu Blog é no mínimo fascinante e instigante.
    Colocarei um link do seu no meu humildezinho Blog, para tornar-lo mais interessante.(risos)
    Sério!
    Por vezes me questiono também se é possível alguém se satisfazer sem estar junto com outras pessoas? Eu tenho ando muito só, involuntariamente é claro, mas confesso que já estou me acostumando com a solidão, e por vezes prefiro estar só do que qualquer cia.
    Penso que estar só não deve ser bom quando chegamos a idade de voltarmos a ser criança, pois nessa época precisaremos de alguém pra cuidar da gente.
    Tenho pensado bastante na velhice.

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  5. Penso que cada qual cresce da maneira que lhe convém. Recentemente, também escrevi sobre o modo de nos adaptar-nos ao nosso estilo de vida, mesmo que se baseie na solidão. Ainda não estou feliz com isso mas, lendo a sua experiência, talvez o tempo realmente cure.
    Abraços.

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  6. Edú meu jovem amigo Jedi!
    Quando disse a você que és um grande guerreiro brincando,não estava brincando.
    Você está sendo superior em tudo, passando, atropelando as tuas fraquezas.
    Superando, tudo aquilo que antes, você nem imaginava superar!
    Saiba que você está agindo certo, como o varão da casa.
    A sua mãe e a sua tia, não são apenas mulheres, elas possuem em suas veias, os mesmos sangue que correm nas tuas.
    E tudo isto que você está fazendo por elas, mostra como você é uma pessoa de grande carater.
    Um grande ser humano, de grande valor, que otimo seria se todos os "homens" fosse como você!
    Dignos de respeito e de admiração!
    Te adoro, amigo! Estarei sempre enviando fortes vibrações positivas , para que nunca tenha sentimentos ruins em relação a você mesmo!
    NAMASTETA, TE ADMIRO PACARAMBA!

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