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Sobre naufrágios irremediáveis, o temor por roupas relativamente caras, as escolhas que definem você e pulgas atrás do canal auditivo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

As aulas na universidade finalmente começaram. Juntei toda a minha coragem e decidi começar o ano letivo logo no dia 4 de fevereiro, mesmo correndo o risco de levar trotes dos veteranos. Na teoria os trotes são proibidos por lei, mas tente dizer isso para um monte de “filhinhos de papai” de 17, 18 anos. Eles estão naquela fase da rebeldia, de burlar as leis dos homens, então, como uma forma de aliviar o calor causado por seus hormônios em ebulição, cortam as roupas, sujam de tinta, cola, ovos podres e óleo, todos os calouros que encontram pelas ruas, nas proximidades da universidade. Por precaução, nos dois primeiros dias eu fui com o uniforme da universidade, com a intenção de intimidá-los caso algum dos veteranos quisesse me sujar, mas por sorte tudo correu bem, ninguém me importunou, mal olharam pra mim. Muitos calouros tiveram seus corpos e suas vestimentas destruídos pela grande quantidade de tinta a que eram expostos. Até soube depois, que muitos pais de calouros ficaram bastante bravos com o ocorrido, mas num lugar tão grande, é impossível uma fiscalização anti-trote eficaz. 
Confesso que tive medo por dois motivos. O primeiro é porque apesar de hoje aparentar bem menos, sou bastante tímido e odeio ser exposto ao ridículo. Corro o risco ate mesmo de passar mal, caso isso aconteça. O segundo é que não tinha a menor intenção de sujar de tinta, ovo e óleo, roupas super novas e relativamente caras. Caso isso tivesse acontecido, eu iria levar o problema à própria reitora da universidade, buscando destruir a vida acadêmica dos responsáveis e, conseguindo isso, destruir então suas vidas privadas. 
Não ha muito o que eu possa dizer dessa primeira semana. Como é comum de acontecer, a maioria das aulas foi apenas uma apresentação dos professores, uma explicação sobre as disciplinas do primeiro semestre e aquela velha coisa chata de “diga o porque de você ter escolhido o curso de Design e o que espera dele”. Bom, eu não espero nada. Como vivo dizendo, deixei de fazer expectativas sobre as coisas. Nos dois primeiros dias de aula, quando os professores fizeram essas duas perguntas aos alunos, tudo o que eu consegui responder foi que, escolhi o curso de Design porque é a única coisa que sei fazer bem em minha vida, alem do ato da masturbação.


Inexperiente como sou, mesmo agora, beirando os 37 anos, me pergunto se toda essa “ressaca” de término de relacionamento é uma coisa normal pra todo mundo. É? Me pergunto quando é que essa sensação, esses sentimentos ruins em relação a eu mesmo e à outra pessoa vão passar, se é que algum dia vão passar. Mesmo sabendo que não adianta mais chorar pelo que se foi, continuo irremediavelmente não aceitando que ele não me quer mais. Estou naquela fase, se é que se pode chamar assim, na qual eu acho que a coisa ainda tem salvação, estou tentando desesperadamente tirar às pressas a água de um barquinho que está naufragando aos poucos sem chance de salvação. Mesmo sabendo que não adianta mais insistir, continuo achando que talvez, se eu agir da maneira certa, dizer as coisas certas na hora certa, se eu fizer um esforço sobre-humano para agradar, ele vai voltar atrás, vai reconsiderar e nos dar uma nova chance, mas o fato é que eu sei que isso jamais vai acontecer, só que eu simplesmente estou me recusando a aceitar a realidade, ate chegar um momento quando eu vou ser obrigado a isso. Muito provavelmente, quando eu souber que ele embarcou num novo relacionamento. Isso se, por um acaso, já não estiver acontecendo e eu estiver apenas sendo poupado por pena. Minha mãe e minha tia me dizem que eu vou superar isso alguma hora dessas, que assim que eu me interessar por outra pessoa, toda essa dor vai passar, mas o caso é que, não sei se isso também faz parte da “fase” pela qual estou passando, não consigo imaginar outra pessoa com quem gostaria de estar, se não com ele. Uma teimosia infantil e definitivamente sem futuro. Não que eu não acredite no amor “carinhoso” que ele diz ter por mim, em consideração à nossa amizade e à tudo o que tivemos, mesmo que distantes, simplesmente o que acontece é que isso não vem sendo o suficiente para me consolar. Sei que saber disso, se é que ele já não sabe, pode deixá-lo muito triste, mas a verdade é que não mais triste do que eu. 

Estou em verdade, bastante espantado comigo mesmo e por várias vezes me perguntando o que é que está acontecendo com o meu psicológico, pelo fato de eu, de repente estar mais “a vontade” para falar de forma mais franca sobre minha sexualidade. Logicamente que esse não é um assunto o qual eu pretenda expor de forma absurda, afinal minha intimidade e minhas escolhas não dizem respeito à ninguém, mas com tudo o que me aconteceu no ultimo ano, com tantas coisas que percebi sobre eu mesmo e sobre as pessoas ao meu redor, alguns problemas e medos que antes pareciam tão relevantes, hoje se tornaram mínimos. Eu sempre reclamei e ainda reclamo o fato das pessoas não me darem a atenção que eu gostaria que me dessem, não se importarem com o que acontece ou deixa de acontecer comigo, sempre enxerguei o lado ruim disso, mas nos últimos tempos pude também perceber que eu me prendia muito ao que achava que as pessoas pensavam de mim, sempre pisando em ovos, sempre contando os meus passos e temeroso de que os outros me virassem as costas. Passei tanto tempo preocupado com isso que não percebi que isso já aconteceu há tempos. Independente do nosso jeito de ser e das escolhas que fazemos, da nossa personalidade, da nossa orientação, as pessoas nos viram as costas de uma forma ou de outra, quer dizer, as pessoas que não fazem questão de nossa amizade. No final das contas só ficam os que valem a pena, mesmo que sejam bem poucos. Percebi que não é a sua natureza que define o seu caráter e que faz com que os outros gostem mais ou gostem menos de você, mas sim as suas escolhas e a partir dessas escolhas, as suas atitudes. Tudo o que eu perdi até agora, todos os que eu perdi, não perdi pelo que sou, perdi pelo que fiz. Sou da opinião de que devemos sim levar em consideração a imagem que passamos para as pessoas, contudo, guardadas as devidas proporções. Podemos ser como quisermos, fazer o que quisermos, pensar o que quisermos, desde que isso não afete negativamente a vida de outros. 


Não me importo mais tanto com o fato das pessoas gostarem do meu jeito de ser ou não, mas o que ainda me incomoda muito, ao ponto de me deixar irritado é ser ignorado. Se você não gosta de mim, se não tem interesse em minha amizade ou em conversar comigo, se sou irrelevante para você, tudo bem, isso é um direito seu. Agora, por favor, não me ignore. Me xingue, fale mal de mim pela frente, me critique, diga que me odeia e que não me quer por perto, mas não me ignore. Tá aí uma coisa que realmente me tira do sério. Eu não sou do tipo que esquece as coisas facilmente, que deixa elas passarem, que ignora tudo. Se sinto que tem algo errado, principalmente em se tratando de alguém em relação a mim, fico com a pulga atrás do canal auditivo o tempo todo e quanto mais sou ignorado, mais furioso vou ficando, ao ponto de, em dado momento não suportar mais e ir tirar satisfações com a pessoa, do por que ela vem me ignorando. Pode não ser nada demais. Na maior parte das vezes tudo não passa de uma neurose da minha cabeça, causada pela minha carência excessiva, mas ainda assim eu só fico confortável se a pessoa me explica o que está havendo, mesmo que seja para ela dizer que estou procurando cabelo em ovo. Sou uma pessoa que gosta muito de dialogar, de expor meus sentimentos e saber dos sentimentos da outra pessoa. Sei que nem todo mundo é assim, nem todos se sentem confortáveis em uma conversa franca. Hoje em dia todo mundo parece ter medo de todo mundo, apesar do advento das chamadas redes sociais. Estou a cada dia, não me fechando mais, mas decidindo tratar as pessoas da mesma forma que elas me tratarem. Se forem francas, honestas e sinceras comigo, se confiarem em mim, ficarei muito grato e farei o mesmo. Contudo, caso se fechem para mim, igualmente me fecharei para elas. Tenho dezenas de defeitos, mas sou uma boa pessoa, modéstia à parte, alguém que vale a pena conhecer. Antigamente, quando minha carência era ainda maior do que é hoje, eu costumava dizer que, se a pessoa não quisesse ser minha amiga, eu a consideraria então minha inimiga, mas hoje, hoje não mais, hoje eu quero que se dane. Se você não tem interesse em ser meu amigo ou amiga, também não terei interesse em lhe conhecer melhor ou lhe ajudar, vez ou outra, desejando que você morra.


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.



2 Divagações

  1. Olá Edu, cara, que legal, finalmente vc começou a facu, parabéns por mais essa conquista, é um grande passo, eu diria um salto. Quanto a sua decepção amorosa, o que posso dizer é, que vai passar, o tempo é especialista em curar feridas e a ocupação em minimizar a dor pode ter certeza.

    Cara, nós somos reflexo das escolhas que fazemos, sinceramente nunca me preocupei com que os outros pensavam de mim, ou se eu estava agradando ou desagradando alguém, sempre fui do seguinte pensamento, os que gostam de fato de mim, vão me aceitar do jeito que eu sou, mesmo eu estando errado ou certo, eles vão gostar de mim. O maior erro que podemos cometer nessa vida é correr atrás dos outros, se vc precisa correr atrás de seus amigos, sua namorada(o), é pq eles não são seus amigos e sim vc amigo deles. Eu sempre fui um cara que nunca me apeguei a nada, sempre fui um tanto frio e fechado, mas digo pra vc, meus amigos sempre me procuraram, sempre me ligaram, se preocupam, mesmo com esse meu jeito distante, as vezes não ligo, não apareço, não mando recado, mas nunca perdi nenhum dos meus amigos por causa disso, pq eles me conhecem, sabem como sou e me aceitam assim. Eu escolhi os amigos que tenho, eu escolhi as pessoas com as quais me relaciono, por isso nunca tive problemas com isso, pois sempre procurei pessoas que se encaixassem amim e não ao contrario. Se percebo que não estou agradando, simplesmente me afasto, não faço o minimo esforço em tentar agradar ou me encaixar. Eu acho que vc sempre escolheu os amigos errados, as pessoas erradas, justamente pq vc sempre se preocupou com os outros e não com vc, mas vejo que vc já percebeu isso, e muito me alegro ver como vc tem crescido como pessoa. Edu, ninguém se importa com agente, ninguém tá nem ai, pro que sentimos ou pensamos, o mundo não esta nem ai. O que fazer então? Procure quem se importe, é isso mesmo, temos que procurar, garimpar, como quem procura ouro, pedras preciosas, e quando encontrar, não perca essa pessoa de vista.

    Abraços

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  2. Oi, Eduardo!

    Uns tempos atrás tinha comentado aqui o fato de eu pensar que o seu amor era um outro homem, na época você ainda não estava pronto para admitir isso, mas acho legal que você já passou dessa etapa.

    Eu sou gay e pelo que leio da sua vida, acredito ter um pouco mais de experiência. Deixa eu te falar, essa coisa de fazer da sua vida a vida do outro pode ser um comportamento conhecido como co-dependência, geralmente ocorre com pessoas que tem de se preocupar excessivamente com outro membro da família, não uma preocupação normal. Então, essas pessoas acabam se sentindo muitas vezes responsável pela felicidade alheia nos relacionamentos, sentindo que precisam preencher todos os sonhos do outros, fazem da vida do outro, a própria vida.

    Acho que pode ser isso, ou não, como sempre, vc precisa de um profissional, mas em todo caso, também penso que pelo fato de vc n permitir (leia bem, vc N SE PERMITE) conhecer outras pessoas, isso afeta. Existem outros caras, existe gente legal. Acho que sua tentativa de ir na balada foi ótima, vc precisa sair se vc quer ter a chance de conhecer novos caras.

    Essa espera pelo outro de repente "acordar" é longa e talvez pra sempre. E vc sabe como carência é o fator broxante número 1, vc ir em frente te faria mais atraente! N perca mais tempo, sabe, o mundo hj é mais aberto, é agora ou mais tarde e mais tarde pode ser muito tarde.

    Bom, é isso. Acho que n vale a pena sofrer mto por pessoas, eu já sofri e hj vejo que foi perda de tempo. Viva! Ser gay é legal pq ao menos vc tá enturmado em um grupo internacional: qualquer lugar do mundo que tu for e buscar uma balada gay ou algo assim, vc já tem algo em comum com aquele povo.

    Então é isso, vamos instalar o grindr no telefone (se é q já n tá), vamos sair e parar de se judiar no cinco contra um, pq tem mta gente disposta a te emprestar uma mão, mas será que eles sabem que vc existe?

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