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Sobre apagar algumas coisas que só estavam ocupando espaço na memória. Literalmente.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Acho que posso ousar falar pela maioria de nós, os chamados “humanos”, quando afirmo que é de nossa natureza achar sempre a grama do vizinho mais verde que a nossa. Sim, pois a grama é de cor verde, em sua grande maioria. Por mais que saibamos que grande parte das pessoas enfrenta problemas em sua vida, vez em quando assumimos um ponto de vista egoísta, achando que somente nossa vida é/está uma droga e que tudo parece dar certo para todos, menos para nós.
Recentemente estava fazendo uma “limpa” nos arquivos do meu computador para liberar espaço em disco, geralmente não tenho nada gravado por muito tempo nele ou se for o caso, passo para um Digital Vídeo Disc para usar quando precisar. A maioria das fotos que tiro, posto nas redes sociais e em seguida apago do meu HD, entretanto, as vezes esqueço uma pasta ou um arquivo "zipado" aqui e ali. E foi numa dessas pastas perdidas nas profundezas do meu computador que encontrei algumas fotos do meu ex namorado virtual.


Não vou negar que me sinto até hoje, um pouco ridículo em usar esse termo ex "namorado" virtual, porque, de fato, nunca estivemos juntos, jamais nos vimos pessoalmente, então, por mais que eu insista em usar essa definição, ainda me soa estranho. Pensar nisso sempre me faz filosofar sobre a forma como encaramos algumas coisas e até que ponto podemos mensurar nossos sentimentos. Bem, que seja ridículo ou não, gosto de pensar dessa forma, que ele foi meu namorado. Espero que ainda hoje, apesar de tudo o que houve e todas as coisas pelas quais passamos "juntos" e individualmente, cada um no seu canto, lhe agrade considerar o mesmo. Embora as coisas não tenham terminado de uma forma muito agradável, tenho feito força hoje para me focar no durante, não no depois. Mas bem, o fato é que lá estavam as fotos dele, uma pasta repleta delas, repleta de boas e agradáveis lembranças, mas que, como disse, não tiveram um desfecho dos mais agradáveis. Minha reação automática? Apagar todas as fotos e esquecer que as tinha encontrado. Não o fiz, logicamente não por compaixão ou carinho, mas por masoquismo. Ainda é um pouco de minha natureza, mostrar que estou sofrendo para chamar a atenção das pessoas.

No dia seguinte, como é de meu costume, fui lamentar minha vida com um amigo, choramingar sobre o quanto tudo está uma merda, sobre como estou cansado e abatido, com vontade de entregar os pontos, mas principalmente sobre como a vida do meu ex namorado devia estar ótima, afinal, um bonito rapaz (e bota bonito nisso), inteligente, estudioso, a essa altura já deveria estar muito bem, feliz com o novo namorado, fazendo ótimos planos juntos para o futuro, talvez até já tivesse um carrinho pra dirigir por aí, enquanto eu fui deixado aqui sozinho, cheio de problemas pra resolver. Em resumo, deduzi que a vida dele devia estar um mar de rosas sem igual.
Depois de passar vários minutos lendo todas as minhas lamúrias, esse amigo, que também conhece meu ex, perguntou-me se seu gostaria de conversar sobre tudo isso e saber a verdade, pois eu estava, movido pela mágoa, o rancor e a solidão, pintando um quadro em minha mente que estava longe da situação real. Preparei-me então para absorver um apanhado de informações que, sabia, me fariam sofrer, afinal, era certeza de minha parte que a vida do meu ex estava ótima, enquanto a minha é uma droga gigante.

Não vou detalhar aqui o que me foi dito, pois não tenho a intenção de expor o garoto mais do que já o fiz nos últimos meses, inclusive revelando sua identidade publicamente, movido pela raiva que estava sentindo, mas fiquei surpreso ao perceber o quanto os sentimentos negativos que cultivamos distorcem nossa percepção, tanto de nós mesmos quanto das outras pessoas.
O que posso dizer aqui é que fiquei sabendo que a vida dele está bem longe de ser o conto de fadas que eu achava, até então. Seus problemas emocionais o estão afetando demais, inclusive fisicamente, afetando seu relacionamento com as pessoas, afastando-o em alguns casos, de pessoas queridas. Está enfrentando problemas familiares, adaptando-se à um novo emprego e assim como eu, se matando na faculdade para manter suas notas. De repente, toda a tinta do quadro que eu havia pintado até o momento, começou a derreter e escorrer. A bela paisagem que eu havia pintado, com ele reluzindo sorridente no centro da tela, virou um borrão de tintas misturadas.


Desde que "terminamos", ou melhor, desde que ele pediu para terminarmos, eu sempre achei que, quando o mesmo acontecesse à ele, quando eu soubesse que, por qualquer motivo, ele estivesse na pior, com problemas, estivesse sofrendo, seria para mim motivo de comemoração, afinal, ele merecia sofrer e eu merecia ser "vingado", por ter sido sumariamente desprezado por ele. Confesso que por muito tempo esperei ansioso para receber notícias assim, de que a vida dele estivesse conturbada, de que ele estivesse com problemas, unicamente para poder então, sair de trás de minha cortina de vítima, rindo de sua cara, apontando o dedo e dizendo o quanto estaria feliz por vê-lo sofrer daquela forma. Contudo, para minha surpresa, não foi isso o que aconteceu. O que eu senti não foi satisfação, mas uma preocupação e um medo que não sentia desde o tempo em que "estávamos juntos", uma vontade louca de ter o poder de, com um estalar de dedos, resolver as coisas para nós dois, mas não um "nós dois", da forma como eu via antes, como eu desejava antes. Independente da distância, existiu um "nós dois", sempre vai existir um "nós dois" e de repente eu consegui perceber que é isso que realmente conta, independente do que aconteça, sempre vai existir. Independente dos caminhos que busquemos para nossas vidas, tivemos momentos que ninguém vai poder tirar de nós.

De repente me senti envergonhado por ter deixado mágoa se transformar em ódio. Ambos são sentimentos ruins, mas sou da opinião que a mágoa é uma coisa bem mais fácil de se administrar, de se superar, enquanto o ódio e o desejo de vingança te consomem a cada dia que passa e vão pesando quanto mais você os alimenta. Não me considero uma pessoa de bom coração ou caráter, mas gosto de acreditar que, se eu me esforçar, me esforçar muito, ainda tenho uma chance de salvar a minha alma da escuridão. E não estou falando no sentido religioso, não é preciso ser muito inteligente para saber que não se precisa morrer para viver no inferno, criamos nossa própria danação e a enchemos dos demônios que optamos por carregar conosco.
Não creio que voltarmos a nos falar, pelo menos agora, seja de alguma valia. Soube pelo nosso amigo em comum que ele sente muito a minha falta e que se preocupa comigo, é o tipo de informação que vai derrubando meus muros devagar, mas ainda não, não creio que eu, no caso, esteja pronto. Acredito que as coisas tem o seu momento e esse é o momento de ambos tentarmos acertas nossas vidas de forma individual.

Eu sempre costumo repetir uma coisa que minha psicóloga me dizia muito há uns anos atrás, que só podemos ir com as pessoas até onde elas nos permitem ir, só podemos ajudar até onde elas nos deixam. Além desse ponto, temos que seguir um tempo sós para que possamos nos descobrir, nos analisar e perceber coisas em nós mesmos sem interferência externa, que isso faz parte do ciclo natural de nossas vidas e que, as vezes é uma fase fácil, outras é bem complicada, mas obrigatória.
Percebi que não lhe guardo ódio, seria egoísmo demais, seria maldade demais, até pra mim, levando em conta todas as coisas as quais fiquei sabendo, levando em conta que, mesmo que seja de outra forma, talvez ele esteja sofrendo tanto quanto eu e esteja tão cansado quanto eu. A mágoa está ainda aqui, dizer que não a sinto seria negar uma verdade, mas como eu disse, ela parece ser um sentimento bem mais fácil de administrar, algo bem diferente do ódio, que te cega para as coisas ao seu redor.
Talvez não voltemos a nos falar tão cedo, talvez jamais voltemos a nos falar, vai depender de ambos conseguirmos limpar nossas almas da maneira que queremos e do que a vida nos reserva daqui pra diante, mas acho que já me sinto pronto pra dizer algo que vinha me negando a dizer nos últimos meses e que agora, me sinto leve para externar: De uma forma nova e diferente... Levi, eu amo você. Força sempre!




EDUARDO MONTANARI
Virginiano, bauruense, estudante de Design, ilustrador e web designer. Amante de cinema, quadrinhos, boa música e outras nerdices. Sonhando com o namorado ideal.



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