0

Sobre o quanto gosto de pudim, falta de ambição e as esquinas por onde a vida nos leva.

terça-feira, 26 de julho de 2016


Dentro de um mês, caso nenhum imprevisto aconteça, estarei completando 40 anos de vida. Não vou bancar o dramático exagerado e dizer que isso me deprime, mas também não vejo nesse acontecimento, motivo de comemoração. Como eu costumo afirmar nos últimos anos, para mim tanto faz, é apenas mais uma data. Para mim, aniversários são supervalorizados. Se é o aniversariante quem quer uma festa, em minha opinião ele nada mais quer do que ser lembrado. Uma forma de carência, mesmo que imperceptível. Se as pessoas querem organizar uma festa para você com a desculpa de que o amam, acho desnecessário. Aliás, acho desnecessárias quaisquer datas comemorativas, onde o ser humano é obrigado a demonstrar, uma vez por ano, que ama alguém ou que gosta de algo. O amar ao próximo, pra mim, deve ser algo constante, diário. E não é assim que vejo acontecer.

Consegui alcançar os 40, aos trancos e barrancos, sem nenhuma ambição na vida. Apesar de gostar de desenhar desde que me entendo por gente, nunca realmente pensei em fazer disso algo que fosse parte da minha vida. Eu apenas sempre gostei, assim como sempre gostei de pudim de leite. Nunca fui de fato incentivado a ser alguém relevante. Lógico que todo mundo, quando descobria meu dom para o desenho, sempre soltava um “você com certeza vai ser um desenhista de sucesso, você tem muito talento”, mas a verdade ee que eu nunca entendi como chegaria a isso. Na minha inocência infantil a vida seria fácil. bastaria eu saber desenhar bem e as portas automaticamente se abririam pra mim com a maior facilidade do mundo, sem que eu precisasse mover uma palha pra isso, afinal, todos diziam que eu era muito talentoso e que meu futuro estava garantido devido à isso.

A verdade é que nunca tive nenhum sonho, nunca amadureci nenhum projeto ou ideia, eu simplesmente fui seguindo pelos caminhos aleatórios que a vida me levava, desse no que desse. Eu não sabia o que tinha que fazer, não tinha vontade de perguntar e ninguém jamais me mostrou a exata direção.
Minha mãe, superprotetora sempre fez tudo por mim, penteou meus cabelos e escolheu minhas roupas até depois da minha adolescência, nunca me deixou faltar nada e acredito que sempre me amou, como ainda me ama até hoje, apesar de nossas vidas terem mudado tanto e tantas coisas terem acontecido entre nós. Mas de fato ela nunca me incentivou a ser nada. Ela reconhecia meu talento, admirava, me via como um grande desenhista no futuro, mas era só isso. Pra ela, bastava que eu fosse seu filho querido, alguém que ela pudesse controlar. Não me entendam mal, já à culpei muito por isso, hoje não mais. Todos cometemos nossos erros que nos marcam para a vida toda. Eu, particularmente aprendi isso da pior forma nos últimos anos.

Nunca tive o sonho de estudar, fazer uma faculdade e ter um diploma. Se hoje aconteceu, confesso que foi meio ao acaso. Como eu disse, sempre fui indo por onde a vida me levou e acabei aqui hoje, com 40 anos, formado, com um diploma e sem saber o que fazer com ele. Eu tive a oportunidade de fazer uma faculdade, numa das curvas aleatórias pelas quais a via veio me trazendo e aceitei, mas não por um sonho, não por motivação, mas simplesmente porque eu precisava prosseguir. Sempre me senti inferior em relação às outras pessoas, sempre me comparando e quando vi a oportunidade de poder me sentir um pouco melhor, aceitei. Mas mesmo agora continuo sem perspectivas, sem sonhos ou ambições, cheguei aos 40 apenas, como sempre, esperando pra ver o que vai aparecer pra mim na próxima esquina.

Vejo as pessoas correndo atrás de seus objetivos, tentando realizar os seus sonhos e me pergunto qual a motivação delas, como elas conseguem, o que as impulsiona a seguir adiante. Um amigo montou uma fábrica de óculos de madeira, outro sonha em ter seu próprio ateliê, outro, em trabalhar com móveis, artesanato, idiomas. Eu os vejo, paro e penso no que me motiva, o que eu desejo pra mim e o que eu espero para o resto dos meus dias, sejam eles quantos forem, e nada me vem a mente. Só consigo pensar na próxima conta de luz que preciso pagar, no boleto do cartão, nos meus próximos exames médicos e no porque eu sempre acabo me entregando mais às pessoas do que elas a mim.
Dizem que algumas pessoas às vezes entram e saem do mundo invisíveis, são só mais um entre bilhões. Não tenho a pretensão de deixar minha marca no mundo, mas paro pra analisar as coisas até aqui e percebo o quando corro o risco de ser facilmente esquecido. E isso me dá medo.




0 Divagações

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!