1

Sobre cartomantes pessimistas, títeres e seus titereiros e a volta do ciclista dominical.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Minha mãe me ligou essa semana pra matar a saudade, já que há alguns anos moramos em casas separadas e também dizer que está pensando em desistir da, sei lá, milionésima religião que ela está experimentando na vida. A desculpa é a de sempre: não está se encontrando lá, não está satisfeita, está vendo coisas que a desagradam. Como é de costume pra ela, nos primeiros meses é tudo lindo e maravilhoso, segue a risca os ensinamentos, decora todos os cânticos, entra de cabeça no negócio pra depois de um tempo se cansar de tudo aquilo e querer pular fora.
Não tenho problemas em ser franco com ela, na verdade com ninguém. Eu lhe disse que seu problema, além de absoluta falta de fé é claro, é também o fato dela não saber o que está buscando. Diz ela que é paz de espírito, mas em verdade são coisas bem menos etéreas que isso. Ela sempre espera uma ajuda mais concreta do criador ou seja qual divindade estiver cultuando no momento. Se o sobrenatural lhe ajudar a pagar as contas em dia e não ter dores no joelho, já está de bom tamanho. Bem, não vou interferir, vamos ver pra onde ela vai dessa vez ou por quais caminhos ela vai querer voltar. Desde que lhe faça bem, mesmo que apenas por uns meses até ela querer mudar novamente, está de bom tamanho pra mim.
Certa vez pedi a um médium cartomante, ex-namorado de uma prima minha para ler as cartas pra mim, mais por curiosidade do que por crença. Acho ridícula a ideia de que exista esse lance de destino, que tudo o que vai acontecer na sua vida já está traçado, independente das suas escolhas. Nascer, viver e morrer se tornariam experiências inúteis a meu ver.
Confesso que não gostei da experiência, me senti mal. Coisas boas foram ditas, mas no geral o clichê de sempre: morte na família, doença, dificuldades, mas no final, vitória e felicidade. Por mais que eu diga não acreditar em previsões, fiquei mal por quase uma semana, temeroso quanto ao meu futuro e o das pessoas que amo.
No final da “consulta” ele me perguntou se eu acredito em Deus. Respondi que acredito em algo maior, uma “energia” superior, mas que dispenso religiões.

Continuo preocupado com meu pequeno amigo e com seus pais acéfalos. Ele acabou de entrar na faculdade pra cursar história, está super feliz, super empolgado com toda essa novidade e os pais, além de não darem a mínima, ainda o desmotivam. O pai diz que ele não precisa levar os estudos tão a sério assim, a mãe, uma coitada a qual eu tenho vontade de afogar, está mais preocupada em fazê-lo de empregado doméstico e zomba dos esforços de seus esforços para os estudos. Duas pessoas com sérios problemas psicológicos que descontam nos filhos a frustração pela vida infeliz que levam. Pessoas sem amor e que, por isso, não sabem dar amor.
Eu que não sou religioso, já me peguei várias vezes nos últimos dias implorando a Deus que o ajude, que lhe dê forças para suportar o que passa e as coisas que ainda estão por vir, que ele não ceda aos vícios nocivos, que não fuja da realidade e que mesmo que cair, tenha forças pra se reerguer. Tenho medo de que agora, com esse mundo novo que se abriu pra ele, venha a necessidade de se rebelar. Uma hora será preciso, pois os pais dele são aquele tipo de pessoa que não vão deixa-lo livre, a menos que ele lute por isso, mas é preciso, por mais angustiante que seja, esperar o momento certo. É preciso ter armas pra lutar e no momento ele não tem nenhuma. É um títere nas mãos de seus titereiros. E o máximo que eu venho podendo fazer é observar e torcer pra que as coisas acabem bem pra ele.

Depois de meses sem pedalar comprei uma nova bike com a ajuda de um amigo anjo e minhas manhãs de domingo são proveitosas novamente. Depois do que houve no ano passado, quando minha casa foi arrombada e tivemos várias coisas roubadas, entre elas minha antiga bicicleta, fiquei bastante receoso em algum dia investir numa nova, afinal, vai que roubem novamente. Estava chateado por passar as manhãs de domingo preso em casa, mas não pretendia ter uma nova magrela. Investimento grande para um risco grande. Mas a vontade de pedalar falou mais alto e decidi arriscar. Cheguei até a me inscrever em um grupo de ciclismo da cidade que fazem trilhas pela região algumas vezes na semana, mas ainda não participei de nenhuma, um pouco por falta de tempo e outro pouco por falta de disposição. Pra encarar uma trilha é preciso ter bons equipamentos e entender bem de manutenção de bicicletas, e nos dois casos estou em desvantagem. Bom, ao menos me inscrevi no grupo. Quem sabe um dia eu arrisco expandir meus horizontes no pedal.






1 Divagações

  1. Acredito que o seu amigo irá se rebelar na hora certa, como vc disse nada é para sempre, ele vai conseguir ter as armas necessárias um dia e vai ser estrondoso o cântico da vitória sobre o império

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!