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Sobre tantas outras vidas, o frigir dos ovos e spoilers não pedidos

terça-feira, 28 de junho de 2022

Recentemente revi o famosíssimo filme “Doutor Estranho no multiverso da loucura”. Não que eu tenha ido ao cinema novamente, principalmente com o preço da entrada, que está altíssimo para os meus padrões, mas é que agora, com o advento do streaming tudo ficou mais fácil. Não que eu assine uma caralhada de serviços dessa natureza, tenho somente a Netflix (TU-DUUUUM!) e mesmo assim tá complicado de manter. O caso é que assim que o filme chega nessas plataformas, também chega para download ilegal via torrent, em dual áudio e qualidade de vídeo 4K, então é só baixar e assistir no conforto do meu sofá, só de cueca ou de roupão, sem cueca, dois meses depois da estreia nos cinemas mundiais. Baixar filmes piratas até onde eu sei é ilegal, mas estou igual a um cavalo: cagando e andando pro fato.

Embora o filme seja aquela coisa básica da fórmula Marvel, com heróis superpoderosos e ameaças apocalípticas, se você analisar a trama de forma mais filosófica (o que particularmente eu sempre faço com qualquer coisa que assista) vai refletir sobre bastante coisa. Essa temática de multiverso, realidades paralelas e outras vidas é algo bastante interessante. Quem de nós nunca pensou: “Ah, se minha vida fosse diferente! Se o que aconteceu tivesse acontecido de outra maneira?”. Não é preciso ser um filósofo ou grande pensador, ter anos de estudo ou leitura para se refletir sobre isso, talvez o mendigo que bateu ontem no seu portão pedindo um prato de comida, quando está deitado na calçada, coberto com caixas de papelão e se aquecendo com a própria urina reflita sobre isso a seu modo.

No filme, após perder os filhos a Feiticeira Escarlate decide usar medidas extremas para recuperá-los, viajando para outros universos onde eles ainda existam, onde ela pode viver outra vida, a vida que gostaria de ter, ser feliz com eles. O problema é que ela ficou tão obcecada por esse desejo que se tornou uma vilã, não se importando em destruir tudo e todos que se puserem em seu caminho para concretizar seus objetivos. Até mesmo suas outras versões, tamanha era sua frustração e tristeza pelo que sua vida se tornou com suas perdas.

Você é feliz com as escolhas que fez? Com sua vida? Se tivesse a chance de mudar tudo, mudaria? Faria as coisas de um modo diferente, tomando outras decisões? Essa é a pergunta principal feita pelo longa.
Há quem diga que a teoria do multiverso é real, que existem outras infinitas realidades onde temos variantes de nós mesmos, cada uma delas vivendo suas vidas, semelhantes em alguns aspectos com a nossa, mas totalmente diferentes em outros. Num universo você pode ser rico, no outro pode ser um bailarino, um cientista ou ator famoso. No outro pode ser um rei, homem ou mulher. Infinitas possibilidades e ramificações. Isso faz a gente pensar bastante, caso goste de refletir sobre o assunto, em como serão os outros “eus” espalhados pelo multiverso? Estarão bem? Serão mais felizes ou realizados do que eu? E se essa teoria for de fato verdadeira, por que é que a minha vida é como é? Por que diabos fui justamente tomar as decisões que me levaram onde estou hoje?

Eu particularmente acordo e vou dormir refletindo sobre isso, já que não me considero uma pessoa feliz ou satisfeita com os rumos que a minha vida tem tomado até o presente momento. Sei que cabe unicamente a mim fazer algo para que uma mudança aconteça, mas no frigir dos ovos, na correria e desgaste do dia a dia fica complicado. Caso você não concorde comigo e em verdade me considere um fracassado, que bom pra você. Viva sua vida feliz e me deixe em paz!
Perto do fim do filme (alerta de spoilers) o Doutor Estranho pergunta ao seu amigo Wong se ele é feliz e o atual Mago Supremo responde o seguinte: "Essa é uma... pergunta interessante. Às vezes me pergunto sobre minhas outras vidas. E me mantenho grato por esta aqui, mesmo com suas dificuldades".

Não nego que uma parte de mim não apenas compreende, como apoia o desejo da Feiticeira Escarlate, afinal seria realmente maravilhoso poder "reiniciar" sua vida, ir embora para um outro universo no qual talvez tudo fosse diferente, melhor. Contudo se de fato pararmos para analisar profundamente, embora seja fato de que sim, algumas pessoas tenham uma vida melhor do que outras, com mais dinheiro, mais saúde, mais amigos e amores, mais momentos felizes, não existe em nenhum universo a existência perfeita. Por mais certa e sem defeitos que uma coisa possa parecer se olharmos os detalhes num microscópio, falhas, imperfeições e vincos serão encontrados. É impossível existir alguém plenamente feliz, assim como é impossível alguém ser triste 100% do tempo, por mais que às vezes sintamos que seja assim. Tudo é uma questão de ponto de vista. Não temos o poder de decidir se vamos sofrer ou não, enfrentar perdas e mágoas, algumas coisas são inevitáveis em qualquer realidade. Creio que o segredo para o equilíbrio é fazer um esforço para entender isso e decidir como lidar com as coisas ruins quando elas acontecem.
Fácil de falar, difícil de fazer, mas até o momento não temos o poder ou o conhecimento para visitarmos outras vidas, outras de nossas versões. E se tivéssemos, adiantaria de algo?

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