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Ressentimentos

quarta-feira, 23 de setembro de 2009



Alguma vez você já se vingou de alguém? Conseguiu se vingar legal, com gosto? Fazer a pessoa sentir na pele o que você sentiu?
"A vingança nunca é plena. Mata a alma e a envenena". Acho que a grande maioria das pessoas já ouviram essa frase do Chaves, oras, quem é que não conhece o Chaves? E essa afirmação? Você concorda?



Enquanto lição de moral ela é muito bonitinha. Cada palavra se encaixa à outra e tem sentido igual pecinhas de lego. Eu amava lego. Mas, tudo o que é "moral", tudo o que é "socialmente" moral, só por isso é correto?
Oferecer a outra face, perdoar, esquecer, são atos "socialmente" nobres. Mas nos tempos de hoje, com as pessoas de hoje, ainda aplicáveis? Vale a pena ser tão moral, em um mundo imoral?


Puritanos, otimistas e moralistas que talvez algúm dia venham a ler esse texto podem torcer o nariz. Questionar a moral social é como questionar a autoridade do Papa na igreja católica. É arrancar a casquinha de uma ferida mal cicatrizada. Polêmico até o último fio de cabelo.
Mas necessariamente, não seguir a moral é ser imoral?


Desde que passamos a nos conhecer por gente, somos instruídos do certo e do errado, isso pode e isso não pode, isso é bom e isso e mau, Deus não gosta.
Eu creio em Deus, mas não o temo. E sinceramente tenho desprezo pelos que o temem. Deus não é uma energia (sim, eu o considero uma energia) que precisa ser temida. Não faço ou deixo de fazer as coisas que quero, ou melhor, não evito cometer erros por medo de Deus, por medo de ser castigado ou ir para o inferno. Já vivi tempo suficiente para perceber que Deus não pune os seus erros, não quer nem de longe o seu mal. Mas ele permite sim que você se afogue no seu próprio veneno, que seja vítima das consequências de seus atos e de suas escolhas. Nada mais justo. Deus não tem a obrigação de proteger ninguém, de corrigir ninguém. Suas escolhas e as consequências que elas acarretam são responsabilidade apenas sua e de mais ninguém.


Partindo desse ponto, no momento então que você reconhece isso, que para cada ação existe uma reação igual ou contrária, você se sente mais livre para tomar as suas decisões, para assumir os seus conceitos do que é moral e imoral. Isso logicamente, com o uso do seu bom senso. Gosto do bom senso porque não é um conceito social e na minha opinião particular, nem tampouco moral. Bom senso é uma coisa que ou você tem ou você não tem. Quero dizer, eu sou da opinião de que você tem o direito de escolher o que é imoral ou não pra você, mas isso não significa que por exemplo, se você for um pedófilo de merda, vai sair por aí seduzindo garotinhos porque considera isso normal. Ouso dizer que considero o uso do bom senso, acima do uso da moral.


Bom, mas porque eu estou expondo tudo isso? Comecei o texto perguntando sobre a vingaça. Se é certa, errada, se vale a pena ou não.
Eu nunca me vinguei de ninguém. Não porque nunca quis, mas porque nunca pude. Nunca tive chance, nunca tive as ferramentas para tanto. Nunca vi erro na vingança ou no desejo dela. Muito pelo contrário, quando penso na vingança me vem à mente uma sensação de justiça. Por isso não consigo mesmo que me esforce, ver a vingança como vingança. Eu vejo a vingança como justiça. E justiça é equilíbrio.


Se alguém lhe estapeia a face, por que não revidar? Se lhes dizem palavras duras, por que não devolvê-las? Dor gera mais dor, mágoa gera mais mágoa, violência gera violência. Oras, cadelas tem cãezinhos e patas dão patinhos. É a natureza pura e simplesmente agindo da maneira que deve agir.
Eu acredito na justiça, eu acredito em equilíbrio, eu acredito na vingança, na utilidade que ela tem e na organização que ela gera.

Recentemente fui injustamente acusado por um amigo de quem gostava muito. Não éramos íntimos, mas durante os meus 3 anos de curso técnico saíamos algumas vezes e tínhamos uma boa relação de amizade. Ele era um cara simpático, uma companhia agradável, tinha uma boa conversa. Um rapaz muito estudioso, muito dedicado, amante de bons livros, enfim, aquele tipo de pessoa do bem com que a gente gosta de se relacionar.


Por causa da minha depressão eu tenho mudanças de humor constantes. Num dia sou muito simpático, amigo, prestativo. No outro posso estar extremamente mal humorado, grosseiro e anti-social. Para as pessoas de fora, que não vivenciam esse tipo de sentimento, passo facilmente por uma pessoa muito falsa, duas caras. Pessoas como eu, confundem os outros. E foi fazendo esse comentário que acabei me dando muito mal.


Em uma conversa que tive, não me lembro agora com quem, comentei com a pessoa que o Rodrigo (sim, o amigo que me ofendeu se chama Rodrigo), talvez me achasse um falso, devido às minhas constantes mudanças de humor. Muitas vezes nos términos de nossas conversas por MSN, eu lhe desejava boa noite, boa prova, boa sorte, tudo de bom. Contudo vez ou outra quando eu fazia isso, ele colocava na tela um daqueles emoticons com carinha de desconfiado, como se não estivesse gostando do que eu estava lhe desejando ou até mesmo duvidando da sinceridade dos votos.


Sou extremamente neurótico com esse tipo de atitude por parte dos amigos. Sou muitíssimo inseguro. Morro de medo de incomodar os aimigos. Quando algúm deles tem o tipo de atitude que o Rodrigo teve, chego a perder o sono, a fome e a minha tranquilidade. Quebrando minha cabeça pensando no que devo ter feito de errado.

Bem, no meu ponto de vista o comentário que fiz não foi nem um pouco ofensivo à pessoa do Rodrigo. Se for analisar, falei sobre mim, não sobre ele, criticando as minhas próprias mudanças de humor.
Os dias se passaram, esqueci completamente desse assunto, esqueci até mesmo com quem o comentei, tamanha era para mim a sua desimportância. Fui passando meus dias sem maiores preocupações além das minhas próprias.


Tenho uma mania besta, que é a de tentar chamar a atenção das pessoas para mim das maneiras mais infantis e idiotas póssíveis.
Acho que para evitar dizer "estou com saudades" ou "preciso de você" eu acabo agindo dessa maneira. O caso é que um belo dia, com a intenção de chamar a atenção do Rodrigo, já que estávamos conversando muito pouco devido ao fato da correria dele com o vestibular, escrevi no topo do meu MSN uma frase, tirando sarro da cidade dele, Agudos. Não fiz isso com má intenção, não quis ofender a ele nem a ninguém. Apenas achei que quando ele lesse a frase e visse que era direcionada a ele, viria então conversar comigo um pouco, mesmo que apenas para tirar satisfações do que se tratava.


Feita essa idiotice, novamente esqueci-me do assunto. Ele não notou a frase, não veio puxar conversa, os dias foram passando e eu já nem me lembrava mais disso. Até que um belo dia, novamente sentindo falta de conversar com meu amigo eu fui chama-lo no MSN:


"_E aí Rodrigo, tudo bom cara?"_eu disse.


Ele não me respondeu. Achei normal. O MSN é assim mesmo. A maioria das pessoas geralmente demoram a te responder por estarem fazendo outras coisas, então não liguei. Permaneci em silêncio por mais um tempo esperando a resposta dele.Vendo que ele estava demorando a me responder, continuei puxando assunto:


"_Bom, como foi a sua semana? A minha foi bem corrida. Fiz isso, fiz aquilo, blá blá blá..."_eu disse.


Continuei tranquilamente esperando a resposta dele. Até comecei a navegar em alguns sites enquanto esperava. Foi quando ele então me respondeu:


"_Eu acho que não te perguntei nada!"


Fiquei surpreso com a resposta, confuso. O que é que eu lhe havia feito? Por que é que ele estava me respondendo daquela maneira? Comecei desesperadamente a puxar na memória alguma coisa que eu pudesse ter lhe feito para que se ofendesse. Não encontrei nada.


"_Rodrigo, o que aconetceu? O que foi que eu fiz?"_perguntei confuso.


"_Nada!"_ele respondeu.


Cara, se tem uma coisa que eu odeio, realmente odeio é quando você sabe que a pessoa está brava com você, ela está demosntrando isso claramente pra você, mas quando você pergunta se há algo errado ela diz que não. Acho isso sem sentido, para não dizer infantil. Continuei perguntando:


"_Me fala Rodrigo, o que foi que aconteceu? O que foi que eu te fiz?"


Ele continuou insistindo na resposta:


"_Nada de errado!"


Com a insistência ilógica dele, comecei a perder a paciência também:


"_Ah Rodrigo, conta outra. Me conta logo o que é que eu fiz de errado!"


Ele então finalmente disse:


"_O que é que você anda falando de mim por aí para os outros!"


Eu realmente fiquei surpreso. Comecei a puxar na memória novamente, tentando me lembrar se tinha dito algo. Não conseguia me lembrar de nada. Então respondi:


"_Eeeeuuu? Quando?"


Ele prosseguiu:


"_Você anda espalhando pra todo mundo por aí, pra todos os nossos amigos, que eu te acho um falso! Inclusive fica mandando mensagens de celular pra todo mundo dizendo isso!"


Lembrei-me então do comentário que havia feito muitos dias atrás. Quanto às mensagens de celular, eu havia mandando apenas uma, para um único amigo. Não estava fazendo disso uma coisa "viral" como ele estava me acusando. Ele continuou:


"_E essa frase no seu MSN? O que está acontecendo? Tá direcionada a mim. Por que você está fazendo isso?"


Fiquei pasmo com a reação dele. Ele que sempre foi calmo, pacato, amigo, estava tendo comigo uma reação extremamente hostil.
Comecei então, já meio magoado a me justificar. Expliquei para ele que não fiz o comentário por mal. Tentei mostrar pra ele que o que eu disse se referia mais a mim do que a ele. Quando a frase do MSN, tentei de todos os jeitos lhe explicar que aquilo era apenas uma brincadeira boba para lhe chamar a atenção. Mas por mais que eu me justificasse ele estava irredutível:


"_Vou sair, tenho que estudar, dá licença!"_ele disse.


Naquela noite não consegui dormir. Estava determinado a continuar a conversa com ele no dia seguinte e esclarecer tudo. Não tive em momento algúm a intenção de ofende-lo e ele estava soltando cachorros em cima de mim que a meu ver eu não merecia. No dia seguinte nos encontramos novamente no MSN, continuei a conversa ainda tentando convence-lo de que tudo não passou de um mal entendido. A certa altura ele então disse:


"_Por que é que você está fazendo isso comigo Eduardo? Isso que você está fazendo comigo tem nome: É perseguição! Você está me perseguindo. E ainda por cima sem motivo nenhum!"


Ao ler isso, meu chão desapareceu. O que é que ele estava falando? Que diabos era aquilo? Do que é que ele estava me acusando? Minha cabeça simplesmente entrou em parafusos. Perseguindo? Eu, o perseguindo? Que absurdo era aquele? O que é que estava se passando na cabeça dele? Eu nunca fiz algo semelhante, nunca lhe dei motivos.Sim, fui grosseiro algumas vezes, mas sempre lhe pedi desculpas depois, sempre me arrependi nas vezes em que, por causa da minha depressão e do meu mal humor, magoei os meus amigos. Mas daí a perseguir alguém? Meu Deus! Eu estava simplesmente perplexo com a acusação dele.

Pasmo, ainda fiquei, agora muito revoltado e magoado, tentando convence-lo de que tudo não passou de um mal entendido, falando pra ele o quanto ele estava sendo injusto comigo e em como eu o considerava um bom amigo. Contudo ele parecia irredutível em sua decisão de me atacar.
Depois de um tempo, inutilmente tentando me justificar, comecei a ficar realmente muito magoado e muito irado com a incrível intolerância e falta de compreensão que ele vinha demostrando. Então eu disse:


"_Olha Rodrigo, tudo bem então. É isso mesmo que você acha de mim? Então façamos o seguinte: Em que horário você vai ao seu cursinho na segunda feira? Leve todas as minhas coisas que estão com você, eu levarei as suas e não se fala mais nisso, não precisaremos nos ver ou conversar nunca mais."


"_Tá bem."_ele respondeu.


Na segunda feira fui até a UNESP, no cursinho para encontrá-lo. Peguei minhas coisas de volta com ele, sem dizer uma única palavra e nem olhar na cara dele. Ele balbuciou uma ou duas palavras, mas eu ignorei. Virei-me e fui embora.Fiquei extremamente magoado com a atitude dele. Mortalmente ofendido e porque não dizer, furioso. Eu não merecia isso. Nada do que fiz foi para ofende-lo ou persegui-lo, como ele me acusou tão erroneamente.


Hoje, não nos falamos mais. cansei de me humilhar implorando de volta a amizade de amigos escrotos que não me merecem. Que se acham isentos de erros e já tão maduros, como é o caso do Rodrigo e do Ricardo também. Eles que se diziam tão meus amigos até hoje não me procuraram novamente. Com certeza porque acham que não cometeram erro nenhum comigo, que foi justamente o contrário. Acham que quem tem a obrigação de voltar humildemente implorando a amizade de volta sou eu. Descobri depois desses "incidentes", que jamais fiz falta alguma para ambos.


Mas, então é assim? Terminou? Acabou desse jeito? Com eles saindo por cima e eu humilhado, abandonado, injustamente acusado e julgado?
A ética, a moral, os bons costumes sociais dizem que eu devo ignorá-los, seguir com a minha vida, afinal eles me provaram que não merecem a minha amizade. Pela lógica, ignorá-los e seguir em frente seria a opção mais madura e até mesmo uma saída superior.


Mas, é justo?


No começo do texto especifiquei minha visão de justiça. Justiça é equilíbrio. Mas há equilíbrio no que os dois me fizeram?
Me julgaram, me criticaram, me acusaram e tudo fica por isso? Sem uma retratação, sem pedidos de desculpas da parte de nenhum dos dois? Sem justiça? Sem equilíbrio? Sem vingança? Com os dois saindo disso superiores, como as vítimas da história? Oras, chega a me ferver o sangue pensar nessa possibilidade!


Não sei quando vou me vingar de ambos, não sei nem se um dia vou realmente me vingar. Talvez um dia eu realmente concorde com a maioria e veja que realmente não vale a pena. Que lixo deve ser jogado fora e não guardado. Mas até esse dia chegar, meu coração está apertado, o meu estômago queima e os meus pensamentos estão somente nos dois e nos seus passos.


Se alguns estiverem certos e eu realmente estiver destinado a queimar no inferno pelos meus atos, então posso garantir que não sei quando nem onde, mas o que é deles está guardado. Esperando na escuridão e na amargura do meu coração.

5 Divagações

  1. É lamentável que esses amigos entre aspas não tenham tido a capacidade de enxergar a pessoa sensível, humana e dedicada que há por trás de toda essa mudança de humor. Torço para que encontre amizades à sua altura, amizades que não lhe exijam perfeição mas saibam compreender. Isso é o que todos nós procuramos. Uma ótima semana.

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  2. Por que é que as pessoas quando querem discordar de você sempre deixam comentários anônimos por medo de serem identificadas?
    Mas eu agradeço, pois é isso mesmo que eu quero. Opiniões diversas, afinal, o que seria do azul se todos gostassem do amarelo? Eu não sou o dono da verdade. Só acho que seria legal a pessoa não ter medo de se identificar. Postar anônimo é o mesmo que bater e sair correndo se esconder!

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  3. Bom, vou me meter nesse ''postar anônimo é o mesmo que bater e sair correndo pra se esconder'', porque me senti atingida pela frase, rs, apesar de achar que talvez você esteja mais dizendo pra anômino do ''ai coitadinho dele'' do que pra geral.

    Quando comento aqui, não assino meu nome (ou um nome qualquer, já que você não me conhece e daria na mesma). Espero que você não subestime minha opinião SÓ por isso.
    Escolhi não me identificar porque ainda me sinto melhor no anonimato (um defeito que estou trabalhando pra que um dia consiga transformar na qualidade de assumir minhas opiniões e ''mostrando o rosto'' sem medo de julgamentos alheios - qualidade essa que você já bem possue), então espero que não seja demasiado incomodo para você.

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  4. Realmente eu não estou generalizando. Eu não tenho nada contra quem posta anônimo. Eu só acho que é muito mais fácil e cômodo bancar o "malvadão" quando se posta anônimo. E eu acho isso covardia. Eu agrido um monte de gente aqui, é verdade, mas não me escondo. Mostro meu rosto, meu nome e cito os nomes de quem agrido. Agora, agredir atrás de uma máscara para ninguém saber quem você é, é covardia a meu ver.

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  5. Estou com sede. O senhor é paranóico, seria um ótimo amigo.

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Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!