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Sobre o que queremos esconder.

sábado, 5 de dezembro de 2009



Outro dia desses, estava eu caminhando pela rua, degustando um pacotinho de pururuca, contemplando as densas nuvens que decoravam o céu, quando durante a mastigação de um volumoso pedaço da guloseima, mordi fortemente a língua e comecei a pensar uma coisa muito interessante enquanto o gosto agridoce do sangue quente se espalhava pela minha boca.
Enquanto bebia de meu próprio fluído vital tomado por um mórbido prazer, fiquei observando os transeuntes e imaginando como realmente ninguém é o que demonstra ser. Não estou falando de falsidade, de pessoas de duas caras. Estou falando de como as pessoas, você, eu, qualquer um sem exceção, nos mostramos de um jeito para as outras pessoas, para a sociedade em geral, quando sabemos que na realidade somos de outro jeito. Tipo, como posso explicar claramente? Por exemplo, aquelas pessoas que só tem cara de santas, quando na verdade, no seu âmago, estão longe disso. 

Vão à missa todos os domingos, respeitam a esposa, ajudam a velhinha a atravessar a rua, não respondem para os pais, mas quando estão só com seus pensamentos, imaginam e desejam coisas que não contam a ninguém. Como a moça beata que reza o terço fervorosamente, mas inveja a colega do lado com o mesmo fervor. Ou o garoto que respeita as amiga como se fosse uma irmã, mas fica se contendo pra não deixar a barraca armar toda vez que senta ao seu lado. Ou o pai de família que beija a esposa, abraça os filhos e de tarde liga pra casa do serviço, avisando que vai chagar tarde por causa dos afazeres em demasia no escritório, quando em verdade ele está catando algum moleque de rua dentro do seu carro, num canto escuro da cidade. O ser humano é dissimulado por natureza, mesmo que não queira, mesmo que não perceba. Usamos máscaras o tempo todo para tudo. Quando vamos à escola, ao trabalho, ao culto, seja onde for e seja quando for. Não admitir isso é hipocrisia.

Você sabe bem o que se passa dentro da sua cabeça. Você sabe que tem coisas em você que se mostrar aos outros, vão torná-lo irreconhecível aos olhos dos que te conhecem. As vezes você para e pensa como seriam as coisas, como as pessoas reagiriam se você deixasse tudo isso sair. Essa "inversão de valores" me causa repulsa, curiosidade, raiva e uma excitação mórbida inexplicável. É demasiadamente interessante você olhar pra pessoa do lado e imaginar que por baixo daquela fachada toda, ela pensa e é capaz de coisas completamente opostas ao que ela demonstra ser. Me causa repulsa pela perversão de alguns, curiosidade quanto ao lado oculto de outros, que as vezes quando você observa mais atentamente, parece estar pedindo pra sair. Raiva, por ver o quanto algumas pessoas mentem pra si mesmas, afirmando veementemente serem de uma ilibada moral, enquanto se sentem queimar por dentro. E no caso da excitação mórbida e inexplicável, bem, isso já é parte do que está debaixo da MINHA máscara.

 
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2 Divagações

  1. Impressionante. Eu penso igual a você, eu fico me perguntando todos os dias o motivo pelo qual eu não sou eu na frente dos outros. Sinceramente é muito interessante a mente humana, nossos comportamentos e indagações, acho isso fascinante! De qualquer forma não consigo ver uma lógica pra isso ^_^ Me identifiquei com teu texto. Ninguém se pergunta sobre isso, ou pelo menos não discute. Todos guardam pra si esse pensamento porque se conhecem.

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  2. Puxa, que sortudo. Adoraria conhecer ela!

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