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Sobre ilhas, cruzes, barcos de resgate e prepotência

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fui para o trabalho outro dia pensando em como a vida mexe seus pauzinhos pra certas coisas irem acontecendo e se encaixando talvez, como devem realmente se encaixar.
Sempre fui uma pessoa que teve medo de largar o pouco que tem para arriscar conseguir mais. Minha mãe costumava dizer que se ficasse rica iria embora de Bauru, talvez embora do país começar uma vida nova em algum outro lugar. Já eu sempre achei legal viajar, conhecer lugares, não que eu o tenha feito, mas acho legal, só que sempre tive medo de deixar de ser uma ilha, de arrancar as minhas raízes do lugar e deixar o que

eu achava que tinha. Deixar o passado pra tráz nunca foi um dos meus predicados.

Todas as vezes em que alguém me falava sobre o quanto seria bom eu deixar Bauru, bater asas, procurar novos horizontes e oportunidades eu pensava: "Puxa vida, mas se eu fizer isso, vou ter que abrir mão de muita coisa, deixar tudo pra tráz, não vou mais poder ver os meus amigos, estar com eles, falar com eles, terei que me afastar e isso eu não quero. Prefiro a morte!"
Eu sempre achei que se eu sumisse as pessoas iriam sentir a minha falta, perguntar por mim, querer saber como eu estou. Achava que a vida era como os filmes de HollyWood (madeira sagrada) onde a pessoa ia embora para uma jornada, sumia por anos e depois quando voltava era recebida pelos amigos cheios de saudades.
Hoje vejo o quanto esse, como tantos outros pensamentos meus foram infundados e infantís. Sabem aquelas pessoas que quando vão embora dizem "eu vou, porque não há nada que me prenda à este lugar". E hoje eu vejo realmente, não há nada que me prenda à este lugar. 




Bom, na verdade há. A minha mãe e a minha tia dependem e sempre dependerão financeiramente de mim. Não posso ir embora pra fazer a minha vida em outro lugar e deixá-las aqui a ver navios. As vezes, nos meus momentos de maior depressão eu as culpo muito por isso, mas quando me acalmo, vejo que feliz ou infelizmente esse é um papel que eu preciso cumprir, essa é a minha cruz. Todos tem a sua.

Mas em relação às outras coisas e pessoas, realmente parei e pensei, vendo que absolutamente nada é forte o bastante para me prender aqui. Não tem ninguém que eu ame, não tenho amigos, não há ninguém além da minha mãe e tia que realmente se importe com o que aconteça comigo ou não. Os amigos pelos quais sempre abdiquei de tanta coisa, não se mostraram dispostos a ceder um milímetro que seja em suas convicções por mim. Percebi que não importa o que eu faça por eles, jamais o farão por mim com a mesma intensidade.
No fundo não posso culpá-los, isso é a vida acontecendo, eu vejo isso agora, porque as coisas que vem acontecendo comigo estão me fazendo a cada dia perceber que esse é um caminho que somos cedo ou tarde obrigados a seguir. Nenhum homem é uma ilha, como eu insisti tão burramente em ser. Uma ilha que quis que fosse habitada por alguns, mas com o passar dos anos vi que permanecerá deserta se eu continuar esperando barcos de resgate atracarem. Não posso mais ser a ilha, preciso entrar no barco e partir.

Eu me lembro o quanto esse pensamento erra aterrador pra mim, chegava a chorar só de pensar em deixar as pessoas pra tráz. Hoje parece tão fácil. Até mesmo a internet pra mim logo se tornará uma coisa completamente dispensável em termos de cominucação e interação. Sempre o foi em termos de amizade. Me desculpem as pessoas com as quais tenho contato virtual, não tenho nada pessoal contra ninguém, mas não acredito em amizades virtuais de nenhum tipo.
Meu MSN tem estado às moscas. Ninguém entra nem de manhã, nem de tarde ou de noite, mesmo nos finais de semana e quem entra pouco conversa ou vem com as perguntas cansativas de sempre: "Como está? O que anda fazendo? O que conta de novo? Pode me fazer um favor?"
O Orkut só não deleto porque uso algumas comunidades. Baixo filmes, músicas, seriados. Fora isso só tenho navegado pelo pornotube.com e mais nada.

Na primeira oportunidade eu vou picar a minha mula daqui. Como disse, tão cedo não posso. Tenho a obrigação de ajudar a minha mãe e a minha tia aqui, mas as coisas sempre mudam de uma forma ou de outra e um dia inevitavelmente eu vou estar por minha conta e risco. Quero achar um lugar onde ninguém me conheça, onde eu possa me focar apenas em mim e nas coisas que eu quero pra mim, se bem que, ainda hoje aos 34 anos de idade eu não faço a menor noção do que eu quero pra minha vida.
Acho que é justamente por isso que fico cobiçando tanto a vida dos outros, porque não tenho uma própria. Não tenho anseios, sonhos, objetivos, não por vagabundagem, mas simplesmente porque cresci sem sonho ou objetivo algúm. nada, nunca me estimulou ou instigou além de companhia. As vezes acho que poderia viver numa cabana nas montanhas, com água do rio e comendo de plantações se tivesse companhia. E não falo apenas de uma companheira, na verdade falo de qualquer pessoa.



Sexo me faz falta sim, beijos, carícias, mas acima de tudo do que eu sinto mais falta é de companhia seja de quem for e pra fazer o que quer que seja.
Mas eu não tenho nada disso. Não há nada que me prenda aqui. Não vejo motivo algúm pra querer ficar. Recuperar o que foi perdido é mais uma das minhas ilusões infantís, achar que cedo ou tarde as pessoas vão aparecer me dizendo o quanto sentem a minha falta e o quanto sou importante pra elas é prepotência da minha parte. Fantasiar que quando eu fizer a minha cirurgia da mandíbula alguém vai me visitar no hospital ou que se eu morrer alguém vai visitar a minha lápide e acender uma vela no dia de finados é uma utopía. Todos estarão ocupados com seus empregos, suas esposas e maridos, seus filhos, suas contas a pagar. Então por que eu devo continuar esperando? Esperar é uma palavra que se explica por si só, é uma derivação de esperança. Quem espera é porque tem esperança e a minha eu preciso largar, pelo menos a de que algúm dia vou ter alguma relevãncia pras pessoas que achava que tinha.
De certa forma é bom, porque se você não espera nada, se sente livre e para de se decepcionar, porque pra você acaba tanto fazendo o que quer que haja.
Tenho pensado em fazer uma boa limpa no MSN e Orkut, deixar uns 5 ou 6 contatos com os quais realmente converso, o resto está lá só de enfeite. Um monte de gente que te adiciona apenas para poder mostrar aos amigos como tem bastante popularidade em redes sociais. Não te procuram, nem conversam. Um bando de gente que não quer nem saber realmente da sua vida, se você está vivo ou morto, se está precisando de alguma coisa. O estranho e bizarro disso é que quando elas se manifestam, sempre afirmam que estão aí para o que der e vier, sempre vão ajudar da forma que for preciso mas se você pede um simples favor elas arrumam mil desculpas para não fazê-lo.

Bom, enquanto eu não consigo me desvencilhar dessa vida pra tentar começar outra, vou vivendo, trabalhando, criando minhas artes que é ainda o que me anima muito. Se não tenho o reconhecimento que eu mereço no âmbito afetivo, pelo menos o profissional vai muito bem obrigado.




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1 Divagações

  1. Ola amigo
    que bom ver que vc esta de volta
    cara fiquei feliz em ler esse seu post
    sua mente esta se abrindo é por esse caminho mesmo amigo
    nada melhor que o tempo para nos mostrar por onde devemos seguir
    vc vai se encontrar amigo concerteza a vida vai te revelar o que vc ainda não sabe. Cara fiquei realmente contente AS GRANDES REVOLUÇÕES COMEÇARAM JUSTAMENTE COM A INSATISFAÇÃO COM O MEIO EM QUE SE VIVE,COM UM PENSAMENTO DE QUERER MUDAR.

    quanto a amizades virtuais vc esta certo,mas é sempre bom mater a cordialidade,afinal tratar as pessoas bem ainda que virtualmente,num faz mal nenhum,e torcer por pessoas que agente vê que é do bem ainda que não conheçamos só tem a acrescentar a nossa vida.

    eu mesmo não sou fã desses sites de relacionamento,meu msn nem me lembro qual foi a ultima vez que entrei,meu orkut so entro pra falar com meus contatos reais mesmo,e agora esse blog que fiz a pouco tempo,para postar assuntos que me enteressam,dividir com os outros.

    sucesso pra vc amigo
    grande abraço

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