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Sobre invasores fétidos, humanismo limitado e cagar dinheiro.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Foi-se o tempo em que eu tinha paciência pra aturar certas cousas. Acabei ficando tão frio com algumas cousas que andaram me acontecendo, que a cada dia que passa meu coração está ficando mais indiferente à tudo, situações e pessoas.
Na madrugada de terça pra quarta, por volta da 01:00h da manhã (sim, durante a semana isso pra mim é madrugada) acordei porque escutei alguém conversando bem na frente do meu portão. Achei estranho alguém parar no meio da rua com o frio que estava, pra ficar jogando conversa fora com no meio da noite, com tudo deserto. Fiquei prestando atenção na conversa, já que estava bem na frente do meu portão e com o passar dos minutos eu percebi que não era bem uma conversa a dois, mas sim um monólogo.
Ainda assim eu não achei tão estranho, pois pensei tratar-se então de alguém falando ao celular. O cara falava até bem, dizendo que estava voltando do trabalho no aeroporto, que havia trabalhado até mais tarde e que agora estava voltando a pé para esticar um pouco as pernas. A única coisa que achei estranho é que ele estava falando alto demais, acho que podiam ouvílo até no quarteirão de baixo. Fiquei prestando atenção na conversa por vários minutos, imaginando o porque o cara estava demorando tanto no celular e o porque a voz parecia vir de dentro da minha varanda. Logo notei que o homem começou a se repetir. Já havia falado umas três vezes sobre a história de trabalhar no aeroporto e de estar voltando pra casa. Eu pensei comigo: "Caralho, mas que porra é essa?". Passados mais uns dois minutos, vou então que ouvi alguém abrindo meu portão.
Eu costumo dizer que minha casa praticamente não tem portão nem muro da frente, é aberta ao público. Temos trancas nas portas velhas e vitrôs pequenos, mas o muro e o portão não oferecem segurança nenhuma, é em verdade apenas uma mureta de um metro de altura, talvez um pouco mais e o portão é igualmente baixo, na altura do muro, já todo torto e enferrujado. Não existe tranca nenhuma pra ele, aliás, sendo como ele é, colocar uma tranca no portão ou não, não faria diferença nenhuma, qualquer um que quiser pode entrar dentro do meu quintal dando um simples pulinho por cima da mureta. Então a única coisa que fazemos é manter uma corrente presa a um cadeado, na grade do portão e quando queremos "fechá-lo", enrrolamos a corrente nele, o que eu já disse, é só um enfeite mesmo, nada impede que alguém pule por cima.
Erguer o muro? Trocar o portão? Com que dinheiro? Só se eu baixar as calças, me agaixar no chão e cagar algúm. Com as contas a pagar, reforma de casa é a última coisa que cogitamos fazer, mesmo porque como já disse aqui antes, a casa não é nossa, moramos de favor.


Bom, voltando ao ocorrido. Assim que ouvi o barulho do portão, pulei do meu colchão, vesti as calças apressado e acendi a luz da sala. Minha mãe que já dormia, acordou assustado perguntando o que estava acontecendo, eu então disse a ela que alguém estava entrando portão adentro. Ambos levantamos e fomos correndo abrir a porta da sala pra ver do que se tratava, ao saírmos na área demos de cara com o portão escancarado e um mendigo já em vias de entrar.
Mais que depressa avançamos pro portão, puxamos de volta e fechamos, gritando com o sujeito. Ao que parceu, o infeliz não estava bêbado, mas sim completamente lelé da cuca, fedia feito uma lata de lixo, todo sujo e maltrapilho. Começou a tagarelar sem parar, não agressivamente, não nos ameaçou em nenhum momento, apenas ficava tagarelando que a corrente do portão e o cadiado eram dele, da casa dele e que ele queria levar embora. Pior que ele achava que a minha casa era a casa dele, ou seja, o infeliz queria levar o meu cadiado embora pra casa dele, que na verdade ele achava que era a minha casa. Pra piorar ainda ficava falando com a irmã imaginária dele, uma tal de Neuza.
Eu até que tenho paciência com esses tipos pobres coitados, até mais do que deveria ter na verdade, afinal o sujeito era apenas uma sombra do ser humano que já deve ter sido. Provavelmente perdeu tudo na vida, trabalho, família, sanidade principalmente e virou um trapo errante digno de pena. Mas o caso é que o sujeito vir tentar invadir a sua casa a 01:00h da manhã, com todo mundo já dormindo cansados e ainda por cima ficar enxendo o teu saco com os delírios dele ninguém merece.
Como disse, o sujeito não apresentava ameaça, mas realmente começou a encher o saco depois dos primeiros dois minutos tagarelando sem parar com essa história de "meu cadeado, minha corrente e minha casa". Ficamos gritando com ele e tentando expulsá-lo, até que a minha mãe ameaçou chamar a polícia e entrou pra telefonar. Fiquei discutindo com o infeliz, já em vias de pegar um pedaço de pau e dar na cabeça dele. Quando ameacei fazer isso, aí sim ele calou a boca e saiu resmungando. Loucos, tem medo mas não tem vergonha na cara. De loucura já basta ter que carregar a minha própria. Mas sabem do que mais, eu juro para vocês do fundo do coração que se ele tivesse continuado a insistir eu realmente bateria nele. Não por medo que ele invadisse nem nada disso, mas simplesmente porque moral e bom-samaritanismo tem limites. É um bêbado, um lunático, um pobre coitado, tudo bem. Mas vá encher o saco de outro a 01:00h da manhã, não o meu. Quem sabe ele não dava sorte e acabava atropelado? Melhor pra ele, afinal, no meu conceito, humanismo também tem limites. E no meu caso é do meu portão pra dentro.








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6 Divagações

  1. Mendigos às vezes são comédia... uma vez, um mendigo bateu na casa da minha vó pedindo comida. Minha vó deu um prato de arroz e feijão pra ele...

    O cara não gostou... e jogou o prato com a comida e tudo no teto da varanda... ficou tudo sujo de feijão...

    Pra gente ver que as vezes nem adianta querer ajudar. Por mais que a intenção seja a melhor possível!

    Ou o cara era louco, ou tava querendo um Filé de Frango à Parmegiana......

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  2. Verdade... tem mendigo que é comédia, mas outros não tem noção. E muitas vezes não adianta, mesmo, querer ajudar, porque eles não aceitam o que a gente oferece. Já aconteceu de darmos comida e o sujeito jogar tudo no chão. A maioria quer é $$$ pra comprar bebida, é a verdade.

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  3. Cara, que sinistro! Concordo com você, bondade tem limite, e a gente tem que se preservar. Mesmo com pena do estado da pessoa. E ele conversando com o espírito da Neusa! Que difícil é a gente ao mesmo tempo sentir pena e ter que ameaçar dar umas porradas!
    Na minha longa vida tive incidentes com mendigos, mas o que mais me impressionou foi um que parou na minha frente uma vez e começou a falar de coisas da minha vida, da traição dos amigos que fizeram um complô pra me prejudicar, e eu não entendia como ele podia saber tudo aquilo! Disse coisas estranhas no meio mas que eu iria superar e ter uma recompensa pelo meu sofrimento, o que realmente aconteceu meses depois.
    Mas, por via das dúvidas, reforce o portão e as trancas!

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  4. oww loco, que sinistro, eu não imagino a minha reação se tiver um louco falando dentro do meu protão...chamo a policia na hora...rs

    cuidado hein.rs

    vc é de sampa mesmo?

    bjs!

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  5. Afffff, Eduardo! Coitado do pobre!!! Não sei como eu reagiria, mas pela tua descrição era inofensivo. Agora... se fosse realmente um ladrão, te daria a maior força pra acertar na cabeça dele.
    Beijinhos!

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  6. Eduardo, esse teu artigo está muito bem escrito. Se houver um concurso de crônicas, manda ele que tá arriscado vc ganhar. Ficou um suspense! rsrsrs

    Mas infelizmente é isso: o alcoolismo é o motivo pelo qual muitos vão terminar a vida na rua. Ninguém aguenta conviver com bêbado, nem a família. Se houver quem aguente, então esse também tem algum problema, ou ainda não atingiu seu limite de tolerância. Tudo tem um limite, como vc mesmo disse, e cada um traça o seu.

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