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Sobre descontentamento materno, direitos trabalhistas e comparações humilhantes.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Acredito que uma das coisas mais chatas para os filhos é serem comparados pelos pais com outras pessoas, tipo: “Você deveria ser mais como fulano, deveria seguir o exemplo de beltrano”. Principalmente quando essas outras pessoas são seus amigos ou pior, seus desafetos.
Minha mãe sempre teve essa mania de apontar minhas imperfeições. Não importa o que eu faça, não importa o quanto eu me esforce, ela sempre encontra motivos para me humilhar,
jogar na minha cara que eu não sou o filho que ela esperava ter. Contudo ela não faz isso de maneira rude ou grosseira, escolhe palavras delicadas, mascaradas em forma de conselho para poder me dizer: “Você é um derrotado”.
Hoje ela acordou inspirada. Nos dias que isso acontece ela consegue transformar uma conversa simples, sobre qualquer assunto que seja, em uma crítica sobre mim e sobre o quanto meus amigos são melhores do que eu em vários aspectos. Eu nem me lembro direito sobre o que estávamos conversando, acho que era sobre os meus direitos trabalhistas, o que tenho pra receber quando terminar de cumprir o aviso prévio. O que sei é que conversa vai, conversa vem, ela começou a dizer que está muito triste por mim, pois todos os meus amigos estão se dando bem na vida, com bons empregos, bons salários e principalmente entrando na faculdade. Falando que logo estarão todos formados, com o futuro garantido enquanto eu estou nessa de ficar procurando empregos meia-boca e ganhando pouco (dinheiro com o qual eu mantenho todas as despesas da casa).
Excepcionalmente nesse fevereiro eu tive que pedir ajuda financeira a alguns amigos meus para poder passar o mês, pois fui demitido logo que voltei das férias e não tive nada pra receber. Fazer isso não foi fácil como muitos podem pensar e nem algo que me faça sentir bem, fiquei aliviado por conseguir paga as contas, mas também humilhado por, aos 35 anos, precisar recorrer a ajuda financeira de amigos mais novos do que eu. Lógico que minha querida mãe não poderia deixar passar a oportunidade de esfregar isso em minha cara, dizendo que estou sempre recorrendo a ajuda de terceiros, deixando que eles paguem as coisas pra mim, sendo que isso não é correto (puts, se ela não falasse, sabe que eu não ia perceber). Acho que ela disse isso porque alguns amigos me convidaram pra ir a um rodízio de churrasco no sábado e se ofereceram para pagar a minha parte. Fui inocentemente comentar isso com ela e lhe dei munição para a alfinetada. É o tipo de coisa que está me fazendo pensar seriamente em recusar o convite e ficar quieto em casa no meu canto, pois desanima demais. Algumas pessoas parecem ter o dom de fazer você se sentir um lixo.


“_Olha só seus amigos, todos entrando na faculdade, o Adriano, o irmão dele, o Ricardo se deu tão bem no CTI...” (preciso dizer que ela citar o Ricardo foi a gota d’água?).
Pior é a pessoa vir com aquele velho discurso batido de sempre, que todos os pais tem a mania de usar com os filhos: “_Eu te sustentei a vida toda e agora você não pode reclamar, tem mais é que ficar feliz por poder nos sustentar!”
Outra coisa que ela adora é quando as pessoas me criticam na frente dela, pois é como se as pessoas lhe dessem razão. Na quinta a noite eu estava conversando com meu amigo Levi Ventura, dos blogs Só Pedaços e Um Oscar por mês e ele me fez uma crítica. Foi o suficiente pra enxerida gritar alto na sala: “_Muito bem Levi! Isso mesmo!”. É por isso que seus amigos tem que ser seus amigos, não amigos dos seus pais.
Se hoje eu não tenho vida própria, se sou obrigado a usar o meu dinheiro pra sustentá-las e não para o meu crescimento pessoal é culpa delas. Se preciso pedir dinheiro aos outros para poder passar o mês é em grande parte culpa delas, que nunca se preocuparam em planejar o futuro, nunca se interessaram em estudar, em evoluir como pessoa, se contentando sempre em serem meras donas de casa. Acho incrível a capacidade de alguns pais em serem mestres em minar a auto-estima dos filhos.
Eu perguntei a ela então se no mês que vem eu posso parar de "contribuir" (bem, contribuir não é a palavra certa, já que eu pago tudo) com as despesas da casa e usar todo o meu dinheiro só comigo, pagando cursos, cuidando da minha saúde, investindo no futuro. Perguntei se elas conseguiriam se virar sem mim e a resposta foi sim. Olha que eu estou realmente tentado a fazer esse teste, deixar correrem as contas de água, luz, telefone, supermercado, gás e depois ver onde isso vai dar.


Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática e trabalha como designer e web designer. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


2 Divagações

  1. Deixe correr, amigo. Deixe. Aproveite um pouco para você mesmo o que você tem.

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    1. Ah como eu adoraria poder fazer isso, mas estou preso a essas responsabilidades.

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