4

Sobre padrões comportamentais inapropriados, roupas apertadas demais e o lado masoquista do amor.

sábado, 30 de junho de 2012

Em certa ocasião, há alguns anos atrás, durante uma discussão virtual com meu amigo Agner, num momento de ira ele me disse uma cousa que me marcou bastante. Não me
lembro das palavras exatas, mas foi algo mais ou menos como: “_Você é mesmo ridículo, não se enxerga! Não passa de um homem de trinta e poucos anos que fica o tempo todo tentando agir como se fosse ainda um adolescente!”.
Fiquei bastante chocado com essa afirmação na época, mas não porque ela me ofendeu, mas sim porque a verdade dói. Baixei a cabeça e me recolhi a minha insignificância, já que ele tinha razão. E hoje, anos depois, percebo mais uma vez o quanto ele estava certo em afirmar isso sobre mim e o quanto apesar de ter achado que sim, eu não melhorei e não amadureci em nada desde que essa discussão aconteceu.
Apesar de já ter trinta e seis anos, estar trabalhando numa profissão séria e talvez já no ano que vem cursar uma faculdade, a verdade é que sou ainda um garoto bobo, inseguro e infantil de quinze anos preso no corpo de um adulto, um ridículo, como disse meu amigo no passado, que fica o tempo todo tentando recuperar o tempo perdido de uma juventude que se foi e não vai voltar nunca mais. Nossa vida é feita de épocas e em cada uma delas acontecem cousas específicas. Nossas experiências, as cousas que vivemos, que fazemos, nosso padrão comportamental, são como roupas que com o passar dos anos vão ficando pequenas, justas demais, então temos que trocar por novas, maiores, que nos caibam. Você deve fazer coisas de criança na sua infância, curtir sua juventude na sua adolescência e infelizmente, depois que atinge a vida adulta se vê obrigado a cumprir com as obrigações e desafios que a vida lhe impõe. Na verdade dá sim para você manter o seu lado jovial, criança, mas mesmo que faça isso, não é nada mais além do que mais uma das muitas máscaras que usamos para suportar uma vida sem sal e sem graça.


Eu vivo me frustrando com minha vida porque, como disse, vivo querendo vestir roupas que já não me servem mais, querendo me comportar de uma forma que não condiz com minha real idade, achando que ainda tenho chance de fazer tudo o que eu não consegui fazer na minha adolescência, pois era tapado e tímido demais. Sou uma pessoa complicada e problemática que fica tentando ser aceito por pessoas bem mais jovens do que eu, pessoas que sim, tem seus problemas, mas que bem ou mal, tem um "molejo" melhor para lidar com eles, um espírito de juventude, uma forma de ver o mundo que eu acho que não consigo mais ter, pois o mundo vai mudando, as pessoas ao seu redor vão mudando e isso faz com que você, sem que se dê conta de quando aconteceu, acabe vendo o mundo de forma totalmente diferente.
Ilusão minha achar que consigo cativar as pessoas fingindo ter um espírito jovial que não tenho mais. Elas são espertas, percebem fácil suas estratégias, pois essas são visivelmente ridículas e isso faz com que as pessoas te achem estranho, esquisito, complicado. E é comum das pessoas procurarem companhia e alento em semelhantes, pois pessoas complicadas e que enxergam a vida de forma séria demais, cansam
Bobagem minha achar que conseguiria manter o interesse de alguém por mim, por muito tempo, ainda mais alguém mais jovem do que eu, com tanto ainda pra viver, tanto a descobrir e como eu disse, com uma luz de juventude a qual eu já não tenho mais tanto quanto achava. Sinto ela se apagando dentro de mim a cada dia, morrendo. Aí eu leio meus quadrinhos, assisto meus desenhos, compro meus bonecos de ação e fico tentando alimentar uma juventude que já passou, na esperança de que alguém veja que talvez eu ainda valha a pena, mas não, como é de costume, eu nunca consigo manter ninguém perto de mim por muito tempo, logo as pessoas percebem que tem mais o que fazer, tem pessoas melhores com quem conversar, com quem dividir seu tempo do que com um cara que já está começando a ficar com alguns fios brancos e finge não ver.


Descobri que a coisa mais dolorosa do amor é ter que abrir mão dele por um “bem maior”, aquele ditado que eu já citei várias vezes aqui: “Quem ama, liberta o outro. Se ele voltar foi porque precisou. Se não voltar, foi porque precisou”. Gozado como algumas frases só são poéticas quando são apenas ditas, mas quando postas em prática a cousa muda completamente de figura. Sou uma pessoa possessiva por natureza e como muitas cousas em mim as quais achei que tinham mudado, mas não mudaram, essa foi uma delas.
O amor é lindo, maravilhoso, libertador, mas ao mesmo tempo é a antítese de tudo isso se você não tiver maturidade para lidar com ele e suas consequências. Um dos lados ou os dois sempre sofre e descobri que o masoquismo é uma coisa comum nos relacionamentos amorosos, sejam eles a distância ou não, pois por mais que você saiba que algumas coisas precisam tomar determinado rumo, você não aceita isso e ainda fica com a esperança de que cedo ou tarde tudo volte a ser como era antes. Mas esse masoquismo não vem apenas de você não aceitar os fatos, mas também de você fazer força para aceitá-los, uma força que você sabe que não tem.
A moral, os bons costumes e o ditado que citei algumas linhas acima, mandam que sejamos íntegros, virtuosos e que, num ato nobre, abramos mão do que mais nos importa, que façamos o que é melhor para o outro e não para nós mesmos, que esse é o verdadeiro amor, o querer bem independente de que forma seja. Aí você reúne todas as suas forças, tira da gaveta todas as suas máscaras e incentiva, com o coração sangrando a outra pessoa a ser feliz sem você, dizendo que ela merece coisa melhor, que o que importa é que ela seja feliz, mesmo que seja sem você, porque isso é o considerado certo a se fazer e você sabe que na verdade é, embora todos os seus sentidos e instintos te digam que não, quando tudo o que você quer dizer a ela na verdade é: “Fica comigo pra sempre!”, mas você sabe que não é isso que vai acontecer. Pior, você sabe que não é isso que ela quer e como você a ama, tudo o que lhe resta é forçar um sorriso, desejar que ela seja o mais feliz que puder em suas escolhas, as quais não incluem você, deitar na sua cama a noite e chorar.

Eduardo Montanari Sobre o Autor:
Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


4 Divagações

  1. Seu amadurecimento emocional é impressionante. eu cheguei a meio século sem entender metade destas coisas, embora saiba que são leis. A vida me parece estas roupas velhas e desconfortáveis que você descreve tão bem, Edú!

    ResponderExcluir
  2. Todo domingo de manhã eu levanto e abro minha caixa de emails esperando que você tenha escrito algo novo. Hoje você me surpreendeu, estou passando por algo parecido. Tenho que abrir mão de alguém, mesmo sendo o certo, é algo que eu definitivamente não quero fazer. Sou uma pessoa extremamente egoísta e ter que ser altruísta não combina com a minha personalidade, mas provocar o sofrimento de uma pessoa que eu amo demais é pior. Só me resta a opção de fingir que sou forte e deitar a noite na minha cama e chorar esperando que um dia eu sare de mais esse desencontro na minha vida.

    ResponderExcluir
  3. Olá, Eduardo!
    Um dos seus melhores textos (ou seria desabafo?) neste ano!
    Abçs!
    Rike.

    ResponderExcluir
  4. Nossa Eduardo, esse texto diz muita coisa sobre mim. É uma pena eu estar atrasado e ter visto ele só agora. A verdade é que a vida adulta é chata pra caralho! Vc é obrigado a usar várias máscaras pra conseguir suportar esse sistema e essa sociedade doentia que perdura anos à fio. Nós adultos, perdemos a capacidade de sonhar, de levar conosco as maravilhas da época que fomos crianças e adolescentes. Eu me privei de muita coisa também e por isso tenho a ilusão de que vou poder recuperar todo o tempo que eu perdi agora, como adulto. Nós temos que amadurecer sim, mas não deixar abandonar o nosso espírito jovem; as pessoas são mais felizes e vivem melhor quando não matam suas juventudes/infâncias. Podem até pensar que eu sou um bobão, um virgenzão, um crianção, mas eu tenho mais maturidade que muita gente que se diz adulta; eu assumo meus erros, tento sempre dialogar quando surge algum problema ou questão e sei respeitar o próximo. Isso sim é ser adulto/maduro. E não vou deixar de assistir desenho ou jogar videogame!
    E qto ao amor, esse aí tem 2 faces: a real, e a falsa, que é travestida como ódio. O amor pode se tornar tão intenso que ele se transforma em ódio. E pra lidar com o amor puro e verdadeiro, não é fácil; precisa ter maturidade, como vc mesmo disse. O amor tanto mata qto liberta e cura.
    E lembre-se: pessoas vêm e vão. Pode ser cruel, mas é fato e uma triste realidade, não tem como escapar. O que vc pode fazer é tirar o máximo de coisas boas que essas pessoas lhe trazem, para a vida toda! E se forem coisas ruins, também; a gente aprende a lidar melhor com as situações.
    Adorei muito este excelente texto, estás de parabéns!

    ResponderExcluir

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!