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Sobre envelhecimento precoce, confiança incondicional e ser querido por pessoas bem mais jovens.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Outra noite dessas sai com minha amiga Carol, fomos comer uma pizza e apesar do passeio ter sido bacana, ambos nos cansamos relativamente cedo. Talvez tenha sido o calor excessivo que vem fazendo nas ultimas semanas, mesmo a noite, talvez tenha sido o cansaço misturado com as nossas barrigas repletas de massas de pizza, mas o caso é que, durante o caminho de volta pra casa, ela comentou comigo sobre o quanto estamos envelhecendo sem nos dar tanta conta disso, ficando cansados e sem paciência mais facilmente. Não aprofundamos o assunto, mas mesmo com ela tendo feito apenas esse curto comentário, fui o resto do caminho refletindo sobre ele. Sou como Peter Pan, por mais que os anos passem eu me recuso a aceitar que estou envelhecendo. Isso é facilmente explicável, pois como perdi minha juventude sendo uma pessoa tímida e retraída, hoje, aos 36 anos eu tento resgatar a adolescência que nunca vivi, aparentemente sem muito sucesso, pois ao tentar agir dessa forma eu só tenho metido os pés pelas mãos.
Por mais que eu me recuse a admitir que estou envelhecendo, tanto em corpo quanto em alma, o tempo é implacável. Não que eu esteja me sentindo um velho imprestável (talvez em espírito sim), mas já estou começando a notar que não tenho mais a mesma disposição que tinha para algumas coisas, como tinha nos meus 20 anos. Tenho me cansado facilmente de interação social, ando com pouca paciência para festas e eventos e quando saio a noite para qualquer lugar, fico com sono facilmente, irritado e logo penso em voltar pra casa. Tenho sentido também os efeitos da pressão, não são constantes, mas vez ou outra, dependendo do clima, principalmente nos dias mais quentes, chego a passar mal, minha pressão sobe e eu me sinto como se estivesse bêbado ou drogado, muito raramente, mas acontece.
No domingo passado fui tentar fazer algumas flexões no chão da sala e mal consegui me manter apoiado nos dois braços, eles pareciam que iam se quebrar, também não tenho forças para fazer sequer uma barra ou abdominal. Tenho pensado seriamente em investir numa bicicleta, já tive uma, mas como não temos lugar em casa para guardá-la, acabei optando por vender. Manter ela no quintal todas as noites é perigoso e ficar colocando e tirando ela todas as manhãs de dentro da cozinha é inviável e desconfortável. Estou pensando então em adquirir uma corda de pular, assim que tiver tempo e um dinheiro sobrando eu vou procurar.


Como disse, me sinto velho em vários sentidos, inclusive quando insisto em ter comportamentos que já não me cabem mais. Sempre me senti mais a vontade e mais atraído por pessoas bem mais novas do que eu. Assim como o Pequeno Príncipe (quem ainda não leu, recomendo que leia), para mim as chamadas “pessoas grandes” são chatas e enfadonhas, com seus assuntos sem graça, cotidianos e muitas vezes irrelevantes. Só que o problema agora é que, do jeito que estou me sentindo atualmente, pareço não estar bem seja ao lado de quem for, independente da idade. Se estou com pessoas muito adultas, muito serias, me sinto deslocado, finjo estar interessado nos assuntos deles, até filosofo um pouco sobre, mas estou sempre com a sensação de que são pessoas com as quais não quero estar. E quanto aos mais jovens, embora continuem me agradando mais, também tenho me sentido perto deles deslocado, como se estivesse tentando vestir uma calça muito apertada, uma roupa antiga que já não me serve mais. Me sinto um homem bobo tentando agir como um adolescente, tentando gostar das mesmas coisas, falar como eles, sentir como eles, ser querido por eles. Esse relacionamento virtual que tive e que, pelo menos para mim, não terminou de forma agradável, foi com uma pessoa de 19 anos, simpática sim, amorosa sim, inteligente sim, mas 17 anos mais nova do que eu e, apesar de madura pra idade, eu me esqueço que 17 anos contam muito. Não que eu, com meus 36 seja um exemplo a ser seguido de maturidade, pois vivo dizendo aqui o quanto me sinto um menininho de 12 anos inseguro e inexperiente, mas por mais inseguro e inexperiente que eu seja, esses 36 anos devem valer de alguma coisa, já passei por muitas coisas, muitos dilemas pessoais, já conheci muitos tipos de pessoas. Eu tenho o péssimo habito de achar que, só porque eu consigo perceber algumas coisas, graças aos meus 36 anos, qualquer um, por mais novo que seja também consegue. Acabo esquecendo que cada um tem o seu tempo certo de aprendizado e que não é porque eu vejo as coisas de uma certa maneira, que a outra pessoa mesmo sendo mais jovem, é obrigada a ver da mesma forma. São 17 anos, muita coisa pode acontecer em 17 anos, muitas experiências novas, muitas descobertas. Não posso exigir que alguém de 19 anos se comporte como alguém de 36, não que alguém de 19 anos já não seja uma pessoa madura, como disse, mas o que tenho que perceber é que a pessoa é madura para a idade que tem, é madura entre as pessoas da mesma idade. Algumas pessoas ainda precisam passar por uma dezena de coisas para conseguirem compreender certas coisas. 

Outro dilema sobre o qual tenho refletido muito é sobre confiança. O que é de verdade confiar plenamente em alguém? O que é preciso? Quais os limites? Eu sou por natureza uma pessoa muito extremista. Se eu gosto de você, se eu me apego, principalmente se eu me apaixono por você, eu entrego minha vida toda, confio plenamente, não há absolutamente nada que eu esconda de você. Hoje eu percebo que não podemos fazer de nossa vida um livro aberto para qualquer um, não podemos confiar em todo mundo, pois infelizmente muitas vezes as pessoas usam nossas fraquezas contra nós, mas por outro lado, quando você sente que pode confiar realmente em alguém, que sabe que aquela pessoa vai entender você, que esta querendo nada mais do que o seu bem, é muito gostoso, pelo menos para mim sempre foi, poder confiar, poder contar tudo, falar aberta e relaxadamente, sem precisar esconder nada, sem precisar ter vergonha, para mim é uma das melhores sensações do mundo. Você se sente leve, se sente feliz por não precisar guardar aquele peso apenas com você, se sente acolhido, compreendido, até mesmo protegido. E eu repito que não devemos nos abrir com qualquer pessoa, sair por ai nos expondo completamente, mas acredito que existam pessoas nas quais possamos realmente confiar.
O problema nessa minha crença é que a cada dia que passa a vida está querendo me provar que eu estou errado, que ninguém confia plenamente em você e que você não pode confiar plenamente em ninguém, que por mais que você implore ao outro “Por favor, confie em mim!”, ele nunca vai confiar plenamente. Sou da opinião que, se você ama uma pessoa verdadeiramente e se ela realmente ama você, sem reservas, não ha motivos para segredos, meias verdades ou historias pela metade, mesmo que você não consiga ajudar ao outro como ele merece ser ajudado, no mínimo o que você deseja é ajudar a pessoa a carregar o seu fardo, mais ou menos como Sam e Frodo na terceira e ultima parte do filme O Senhor dos Anéis: “Eu não posso carregar o seu fardo pelo senhor, mas eu posso carregar o senhor”. Pode não ajudar muito eu sei, na verdade pode não ajudar em nada, mas pelo menos você esta tentando fazer a sua parte, mas eu acredito que se a pessoa opta por não dividir isso com você é porque ela não lhe acha confiável o suficiente para tanto ou acha que você não vai compreender o sofrimento dela. Lógico que posso estar errado, sou carente todos sabem, gosto de precisar das pessoas e também me agrada que os outros precisem de mim, gosto de sentir que sou querido, gosto de saber que as pessoas precisam da minha ajuda, isso eleva minha auto-estima, mas errado ou certo é assim que eu sinto. O simples fato da pessoa escolher outros para contar os seus problemas que não você, para mim mostra que você não está a altura dessa honraria. Bom, talvez com todos os meus problemas psicológicos eu não esteja mesmo. Tudo o que sei fazer é afastar as pessoas de mim com meu jeito louco de ser.


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Eduardo Montanari é dono dos blogs Divagações Solitárias e Du-Montanari Design. É formado técnico em informática, trabalha como designer e diagramador. Nerd assumido, gosta de quadrinhos, anime, mangá, entre outras nerdices e esquisitices.


1 Divagações

  1. Olá, como sempre suas reflexões e filosofias do cotidiano, estão cobertas de rasão. As vezes também me pego nessas reflexões, me indagando sobre o como estou envelhecendo e o quanto o tempo esta passando rápido, tão rápido que não me da nem tempo. Mas procuro não me grilar com isso, procuro gastar meu tempo mas em encontrar soluções para resolver meus problemas, do que refletir sobre eles, com o tempo, não me dando tempo, preciso ser rápido.

    Cara, quanto ao fato de vc cansar fácil, acho que não tem tanto haver com o envelhecimento, mas sim com a falta de exercícios o sedentarismo, de vez em quando, faço alguns exercícios e percebo claramente que quando fico muito tempo sem faze-los me canso com mais facilidade do que quando faço, e fora o fato de que me sinto muito mais disposto quando faço meus exercícios 3 vezes por semana e em cada exercício faço uma série de 15 3vezes cada. Faça o teste, comece de devagarinho, fazendo o que vc consegue fazer, abdominais, flexões, polichinelos que dentro de uma mês vc vai se sentir bem melhor e mais disposto.

    Realmente encontrar pessoas em que podemos confiar e nos abrir sem receios esta cada dia mais difícil, pois confiança nos dias de hoje é quase uma utopia. Sinceramente aqueles em que eu posso confiar já estão do meu lado, prefiro não correr o risco de sair procurando em quem confiar. Como disse Renato Russo, SE VC NÃO TEM ALGUÉM EM QUEM CONFIAR, CONFIE EM SI MESMO.

    Abraços

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