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O fim da minha "ressaca literária", ou apenas uma trégua?

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Há algumas postagens atrás comentei sobre o fato de eu não estar conseguindo ler mais nada além algumas histórias em quadrinhos de temática mais adulta, disse que até andei comprando uns livros, mas deixando-os mofar na estante da sala de casa. Acredito que os tenha comprado mais como uma forma de consumismo sem sentido, com o intuito de aplacar um pouco minha depressão, ou simplesmente para poder dizer, "se fulano tem, eu também quero ter", já que vivo me sentindo sempre inferior a todo mundo, em todos os sentidos, o tempo todo. O que sei é que, dos ralos objetivos que costumo traçar vez sim, vez não para minha vida, voltar a ler é um deles e eu preciso começar de algum ponto, por isso decidi me propor um desafio e também usar o blog para algo mais útil do que ficar chorando pelo Levi, pelo Ricardo, pelo Paulinho e tantos outros que já passaram pela minha vida e hoje, por escolha deles não fazem mais parte dela.
Não sou nenhum exímio crítico literário e nem tenho pretensão de o ser, externo minhas opiniões sobre alguma obra, seja um livro, filme ou história em quadrinhos de forma leiga e nada profissional, mas gosto de comentar, do meu jeito, sobre as impressões que tenho das coisas que experimento, vivencio. Vou começar minhas críticas amadoras então, falando de duas obras que li recentemente, uma por indicação de um colega de trabalho e a outra porque, num dia desses, a toa numa livraria aqui da cidade, olhando livros aleatoriamente e lendo seus resumos, identifiquei-me em partes com o personagem central e decidi comprá-lo, num ato totalmente espontâneo e despretensioso.


Há um tempo atrás ouvi falar por alto do projeto MSP50 (Maurício de Sousa por 50), que começou em 2009 e que reuniu 50 artistas diferentes para que, de certa forma, reinterpretassem os personagens consagrados (com o aval do próprio Maurício de Sousa, é claro). Esse livro em específico não cheguei a adquirir, entretanto, mais recentemente, um colega de trabalho que, pode-se dizer, também tem sangue nerd, mostrou-me alguns itens de sua coleção e entre eles, duas obras do projeto MSP: Astronauta - Magnetar e Chico Bento - Pavor Espaciar. Ambos maravilhosos, mas na ocasião, folheei mais o Chico Bento e foi ele quem acabou me chamando mais a atenção. Acabei comprando-o pelo site da Saraiva quase que imediatamente, sem pensar duas vezes.
Embora ainda não tenha lido o já citado Astronauta (pretendo fazê-lo assim que possível), o que me impede de comparar essa versão do Chico Bento com os outros livros da coleção, logo de cara pude perceber algo que me agradou demais e que, pesquisando por cima, pude constatar estra presente também nas outras histórias desse projeto: a liberdade criativa que Maurício de Sousa deu aos artistas, fazendo com que as histórias se tornassem muito autorais.
Nessa edição, a reinvenção de Chico Bento ficou a cargo do artista Gustavo Duarte, que inclusive morou em Bauru por vários anos, pelo que sei, o que despertou ainda mais o meu interesse pela obra, mas acima disso, o traço de Gustavo é incrivelmente sedutor, limpo, bem definido e elástico. Cada quadrinho é bem minimalista, com poucos elementos visuais, o que faz a leitura ficar agradável aos olhos, mas o traço dos personagens, esguio, com as extremidades volumosas confere movimento, um dinamismo bacana, por várias vezes se tem a impressão de que os personagens vão mesmo se mover e saltar para fora do papel. Confesso que me lembrou bastante aquele antigo desenho animado dos Tinny Toons, acho que era esse o nome. Estou velho.
Assim como as outras edições dessa coleção, Chico Bento - Pavor Espaciar é caprichada para os fãs, de um acabamento impecável, com texto de abertura de Maurício de Sousa, várias páginas de extras, mostrando os esboços e as etapas do trabalho de Duarte e explicação de várias referências usadas na história. Há também um texto de Roger Rocha, do Ultraje a Rigor, banda da qual o autor da graphic é bastante fã.
Editora: Panini Comics – Edição especial
Autor: Gustavo Duarte (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 19,90 (capa cartonada) e R$ 29,90 (capa dura)
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Agosto de 2013
Sinopse
Tinha tudo para ser mais uma noite tranquila na Vila Abobrinha. Mas Chico Bento, o seu primo Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giserda acabam abduzidos por alienígenas que têm planos sinistros.

Decidi começar meu desafio, que é retomar meu gosto pelo hábito da leitura de forma gradativa, nada muito básico, tipo O Pequeno Príncipe, que é lindíssimo, mas que você consegue ler em apenas uma tarde, mas também nada pesado demais, tipo um Stephen King da vida ou Harry Potter e a Ordem da Fênix, que tem lá suas mais de 700 páginas (e eu as li). Embora me interesse por livros, conheço poucas obras, poucos autores, alguns são me apresentados por minha tia ou minha mãe, outros acabo conhecendo pela mídia, então tudo o que costumo... costumava... bem, sei lá agora se vou realmente conseguir voltar mesmo a ler mais, mas vamos dizer então, que as vezes leio é meio "no palpite". Ou alguém me recomenda, dizendo que é bom, que vale a pena ou eu mesmo, pesquisando um pouco sobre a obra acabo interessado em conhecer melhor. Foi o que mais ou menos aconteceu no caso do livro que escolhi, meio que acidentalmente para iniciar minha caminhada rumo ao hábito saudável da leitura.
Estou em férias do escritório e da universidade e, consequentemente, sem absolutamente nada de útil ou divertido para fazer da vida e ocupar esse meu tempo de ócio e, embora eu seja a simpatia em forma de ser humano, a verdade é que  não tenho amigos. Para os poucos que se dizem meus amigos, a sensação que tenho é que faço pouca ou praticamente nenhuma falta. Recebo muito raramente um convite aqui, outro ali, mas não me sinto realmente necessário na vida dessas pessoas, são aqueles casos os quais, eu aceitando tais convites ou não, em nada mudará a vida do outro, ela não ficará mais triste ou com menos graça, e confesso egoisticamente que é isso que eu gostaria que acontecesse. Mas voltando a falar do livro: para aliviar meu tédio, no dia 28 de dezembro do ano passado estava caminhando e, revoltado com muitas coisas que andam me acontecendo, resolvi entrar em uma livraria famosa daqui da cidade de Bauru, disposto a comprar um livro, fosse ele qual fosse (desde que o assunto me cativasse, é claro), para retomar meu gosto pelas letras. Odeio a literatura do meu próprio país, não importa o quanto digam que ela é culta e rica, ler romances nacionais sempre me causaram um certo asco, um cansaço extremo, talvez isso se tenha dado por conta de ter sido obrigado a ler tantos no ginasial e colegial. Entrei na livraria e fui diretamente à estante de romances internacionais. De início pensei em adquirir um desses títulos famosos, comentados na mídia, a coleção dos Jogos Vorazes, quem sabe, ou talvez alguma coisa curta do Stephen King mesmo, se é que existe algum romance dele curto, mas eu sempre fui muito preso aos mesmos autores, sempre segui a moda do momento e portanto achei melhor variar um pouco, buscar algo do qual nunca tenha ouvido falar, um escritor desconhecido pra mim. Comecei a correr os olhos pelas estantes, olhando os títulos, as capas, lendo uma ou outra sinopse, muitas me pareceram bem interessantes. Por um segundo pude sentir o quanto de tempo andei desperdiçando não lendo nada. Uma pergunta pra quem lê a mais tempo que eu: é chamado de "sinopse" mesmo aquele resumo do romance que sempre fica na contracapa dos livros ou isso só se aplica aos filmes? Aguardo respostas.


Correndo os olhos pelos livros me detive no título de um que me chamou a atenção: A trégua. Me chamou a atenção pelo motivo mais idiota possível creio eu, pois na hora a primeira frase que me veio a mente foi: "Por que não? Eu preciso de uma trégua pra esse monte de pensamentos ruins que andam me assolando. Talvez eu encontre aí". Coisa mais tosca, mas enfim, não que eu tenha pensado se tratar de algum livro de autoajuda, simplesmente fiz essa associação infantil mesmo entre o título e os meus problemas pessoais. Finalmente agora, minha opinião limitada sobre o romance. Ufa! Eu viajo demais nas minhas introspecções.
A trégua é um romance publicado originalmente em 1960, escrito por Mario Benedetti, nascido em 1920 em Paso de los Toros, Uruguai. O livro conta a história de Martín Santomé, descrito pelo autor como "um homem maduro, de muita bondade, meio apegado, mas inteligente".
Prestes a completar 50 anos, viúvo há mais de vinte, Santomé mora com os três filhos. Não se relaciona bem com nenhum deles, tem pouco amigos e mantém uma rotina cinzenta, sem sobressaltos (tirando a parte dos filhos, foi esse o ponto do resumo da obra que mais me chamou a atenção, por motivos de identificação). O livro é escrito em formato de diário e nesse diário ele conta os dias que faltam para sua aposentadoria; mas não tem ideia do que fará assim que se livrar do trabalho massante.
Porém, seu destino muda quando ele conhece Laura Avellaneda, uma jovem discreta e tímida contratada para ser sua subalterna. Com ela, Santomé voltará a conhecer o amor, numa luminosa trégua para uma vida até então taciturna e opaca.
O livro é relativamente curto, 180 páginas, comprei-o no sábado, 28 de dezembro, e terminei de ler todo ele na tarde de 1º de janeiro. Uma das primeiras coisas que me cativou na leitura foi o fato do romance ser escrito em primeira pessoa, no formato de um diário, sem longos capítulos, nas paginas ele apenas narra seus dias, de forma curta e direta, alguns em duas páginas, outros em apenas duas linhas, achei isso "inovador", talvez porque até hoje não tenha lido nada com um formato parecido. Em minha opinião particular isso tornou a leitura bem leve.


Embora tenha sido escrito em 1960, não achei a linguagem difícil. Benedetti usa muitas palavras e expressões que desconheço, mas nada que um bom dicionário (no caso hoje um Google) e um pouco de paciência não resolvam, além do que, como já disse, ele não se perde em muitos floreios, é direto ao ponto e eu descobri que gosto disso, já que sou naturalmente impaciente e ansioso com tudo em minha vida.
Pra minha surpresa fiquei bastante preso ao livro, bom, pelo menos na primeira metade dele, já explico isso. Cheguei em casa, tomei um banho, sentei-me no sofá e quando vi, já haviam se passado quase três horas, eu já havia devorado mais de setenta páginas e ainda por cima fazendo algo que nunca fiz, com uma caneta marca-texto ao meu lado, grifando os trechos com os quais mais me identifiquei.
Embora eu tenha pesquisado e lido que esse livro é famosíssimo tanto quanto seu escritor, não achei lá grandes coisas, no geral, gostei sim, gostei bastante, senti-me bastante preso em alguns momentos, publicando meus trechos favoritos nas redes sociais, como se alguém fosse dar importância a isso, mas como disse acima, o caso é que a leitura só me foi 100% agradável até a primeira metade da trama.
Antes de conhecer Avellaneda, Santomé fala muito de si mesmo, refletindo não apenas sobre si e sua solidão, seus medos e temores, mas sobre a vida de um modo geral. Durante toda essa narrativa praticamente pintei as páginas com o amarelo da caneta luminosa, desatacando uma passagem atrás de outra. Contudo (e eu acho que já esperava isso, devido ao meu estado emocional atual), comecei a achar a leitura bastante monótona e cansativa depois que Avellaneda entra na vida de Santomé, me comprovando algo que ainda hoje tenho certa vergonha de admitir: em se tratando de romance e amor, a felicidade dos outros me deixa muito infeliz, uma inveja maligna e destrutiva mesmo.

O livro não se tornou menos bem escrito ou interessante, mas mais chato, pois grande parte dos dias de Santomé passaram a se focar em Avellaneda e em seus sentimentos por ela, uma coisa piegas, clichê e antiga (lógico que tenho convicção, meus sentimentos pessoais com certeza interferem numa análise justa do livro, talvez isso melhore com o tempo). Tudo o que eu estava gostando até a primeira metade do livro foi desaparecendo a medida em que Santomé e Avellaneda se aproximavam mais e assumiam seu amor um pelo outro. Daí em diante o diário do protagonista se transformou um pouco (digo um pouco, porque ainda assim manteve um pouco da introspecção e da autoanálise que tanto me conquistou), passando Santomé a narrar seu amor pela moçoila, fazendo planos para conquistá-la.
Todavia é inegável de minha parte dizer que o final me surpreendeu, embora não muito diferente de várias coisas que já li e assisti, admito que mexeu comigo, não cheguei a chorar ou me emocionar profundamente, talvez justamente pelo motivo que já citei, essa coisa de amor dramático, hoje posso comprovar, é rotina.
Apesar de todas essas minhas reclamações, as quais admito novamente são de ordem puramente pessoal e sentimental, termino essa minha tosca análise dizendo que acho que escolhi um ótimo livro pra recomeçar. Pretendo algum dia relê-lo, com menos rancor e mágoa no coração e ver se tenho sensações diferentes, mas sensações ruins a parte, A trégua é um excelente livro e, acima do fato de eu ter gostado dele ou não, estou feliz por ter conseguido ler um livro inteiro, do começo ao fim e em tão pouco tempo.. É isso. 


Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Nascido e ainda morando na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, sou estudante de Design e trabalho como designer e web designer, áreas pelas quais tenho muito interesse. Amo cinema, quadrinhos e boa música.



2 Divagações

  1. Salve duh...se quiser tenho alguns livros e alguns que posso indicar pra ti....soh me fala que tipo de livro vc curte.

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    Respostas
    1. Olá Marcel, não digo que gosto de todos os tipos de livros, alguns sinceramente tenho preguiça em ler, pela quantidade de páginas, a menos que sejam muito bons é claro, mas gosto bastante de livros, ficcionais ou não, que lhe fazem refletir sobre as coisas.

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