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Porque hoje eu quis voltar sozinho.

domingo, 27 de abril de 2014

Escrevo esse texto enquanto me delicio com Fold your hand child, you walk like a peasant, álbum de Belle e Sebastian, lançado em 2000. Sempre ouvi falar, mas nunca me interessei em ouvir nada da banda, até, nesse último sábado decidir, depois de muito protelar, ir ao cinema ver um filme que há tempos esperava: Hoje eu quero voltar sozinho.
Roteirizado, produzido e dirigido por Daniel Ribeiro, Hoje eu quero voltar sozinho é um filme brasileiro, estrelado por Guilherme Lobo, Fábio Audi e Tess Amorim, ele é baseado no curta-metragem Eu não quero voltar pra casa sozinho, de 2010, ganhador de vários prêmios. Na época, assisti ao curta por acaso, no Youtube e me surpreendi bastante com como o diretor conseguiu abordar um tema, para alguns, tão polêmico, de forma tão doce e singela. Em 2012, no Twitter oficial do curta, foi anunciado que o longa-metragem, que seria chamado de Todas as coisas mais simples, baseado no curta, já estava em fase de produção, e em 10 de dezembro de 2013, Daniel Ribeiro anunciou que esse era um nome provisório, pois além de bastante genérico, não tinha muito a ver com o curta de 2010. Foi só depois de muitas reuniões, debates e discussões que Hoje eu quero voltar sozinho se tornou o nome oficial do longa, pois refletia não apenas as mudanças ocorridas no filme, mas também as mudanças e dilemas que o personagem protagonista, Leonardo (Guilherme Lobo) enfrentaria.


Leonardo é um adolescente cego que, como qualquer adolescente, está em busca de seu lugar. Desejando ser mais independente, precisa lidar com suas limitações e a superproteção de sua mãe. Para decepção de sua inseparável melhor amiga, Giovana (Tess Amorim), ele planeja libertar-se de seu cotidiano fazendo uma viagem de intercâmbio. Porém a chegada de Gabriel (Fábio Audi), um novo aluno na escola, desperta sentimentos até então desconhecidos em Leo, fazendo-o redescobrir sua maneira de ver o mundo.


Confesso que achei que poucas pessoas aqui na cidade de Bauru tinham conhecimento desse filme e que menos gente ainda iria prestigiá-lo,  afinal o povo daqui, me desculpem se eu estiver generalizando um pouco, não é um exemplo de cultura e nem de mente tão aberta, ou talvez seja eu quem deva sair mais de minha caverna, já que tomei a decisão mais complicada, que foi sair do meu armário, pois a sala de cinema ficou bastante cheia e pelo que pude ver, o filme era conhecido e esperado por muita gente, a maioria, como já era de se esperar, de homossexuais, o que é óbvio, é super natural, devido à temática do filme. Achei até que eu iria ser o único solteirão no meio de tantos casais, mas vi que muitos estão no mesmo barco, o que me fez sentir bem mais leve até, não foi algo que me fez mal como eu pensei que faria, muito pelo contrário, nessas horas a gente vê que não se pode parar a vida, desistir das coisas ou deixar de se fazer o que gosta por estar sozinho. 


O filme, ao contrário do que alguns, mais preconceituosos "conservadores" podem pensar, não é de forma alguma vulgar ou apelativo por tratar do tema que trata, nada é gratuito ou feito para gerar polêmica, nem mesmo as cenas de nu ou a grande cena do beijo, que a plateia toda estava esperando e aplaudiu muito (inclusive esse que vos escreve). Tenho certeza de que muitos dos que foram assistir, não digo só aqui, mas pelo Brasil afora, se identificaram muito com a forma como a história foi contada, ser um adolescente já não é fácil e, mesmo estando acostumado, viver sem visão não deve ser simples, mas independente dessas limitações, tem-se sonhos, tem-se desejos, muitas dúvidas, inclusive sobre quem você é, seja em que sentido for, e a forma verdadeira, natural e humana como o filme consegue retratar isso, torna impossível que você não se veja como um dos personagens da história, no caso de muitos, como Leonardo.
Só pra terminar, quero ressaltar que a trilha sonora é uma das mais fofas, doces, meigas, cuti cuti e cobertas de chocolate que já vi. O tema principal é There's too much love, de Belle e Sebastian, banda da qual já virei fã e pretendo conhecer a discografia completa. 



Sobre o Autor:
Eduardo Montanari Nascido e ainda morando na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, sou estudante de Design e trabalho como designer e web designer, áreas pelas quais tenho muito interesse. Amo cinema, quadrinhos e boa música.



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