0

Sobre as vantagens de ser invisível na pandemia, máscaras sobre máscaras e dificuldade em aceitar novas realidades.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Dia desses, durante uma de minhas caminhadas (devidamente protegido, é claro), conversava com meu amigo Adriano (virtualmente) sobre como essa nova realidade criada pela pandemia do letal Coronavírus tem afetado nosso psicológico. Não vou generalizar, claro, afinal algumas pessoas como o nosso acéfalo e cruel presidente e seus asseclas igualmente descerebrados não estão nem aí pra nada, mas de minha parte lhe disse o quanto esse isolamento tem me deixado desanimado. Eu, que vivo bradando aos quatro ventos me sentir tão carente e solitário, tenho atualmente essa sensação duplicada. Costumo fugir disso indo ao cinema, um ou outro evento que me agrade, mas agora, com todas essas restrições o meu contato com outros humanos diminuiu bastante. Todavia a sensação não me é estranha, nova ou esmagadora, sempre me senti meio à parte de tudo, mesmo quando estou em grupo, sempre me senti diferente, deslocado, pouco necessário, invisível até, então ironicamente isso acabou se tornando uma espécie de vantagem que tem me ajudado a suportar esse período de quarentena. Ninguém parece precisar muito de mim normalmente, então, pra dizer a verdade essa quarentena não tem me causado tanto estranhamento. Tenho sentido mais falta mesmo de ir ao cinema, comprar uma pipoca grande e encher o rabo de água com gás.

De acordo com a lei dos homens, dos quais nunca fui muito fã, a partir do dia 4 de maio será obrigatório o uso de máscaras nas ruas, ônibus e estabelecimentos comerciais (os que estiverem abertos, é claro). Além de nossas máscaras naturais inatas, as quais todos nós sem exceção usamos desde o dia em que somos expelidos do útero de nossas mães, seremos obrigados, para o nosso próprio bem a vestir também outra por cima. Muitos já vem fazendo isso desde o agravamento da pandemia, mas confesso que eu fui adotando esse hábito aos poucos. Há alguns dias escrevi aqui no blog um texto de título "Adapte-se", onde falei sobre a dificuldade do ser humano em aceitar mudanças e se adaptar a novas realidades. Há quem consiga de forma mais fácil, modéstia à parte eu sou uma dessas pessoas, mas negar que haja dificuldade em fazer isso é ser soberbo. É da natureza huamana querer controlar tudo ao seu redor, não apenas sua própria vida, mas seu ambiente e as pessoas que o cercam. Num mundo tão desigual, a sensação mínima de controle é fundamental. Se você passa a sentir que não pode nem mesmo controlar sua própria vida, que um inimigo invisível (não, não estou falando do Predador) pode atacá-lo sem que você perceba, que não apenas sua rotina cômoda, mas sua própria vida está em risco, isso pode foder sua cabeça. Ou você fica neurótico com tudo ou entra em negação constante, que é o que muitos tem feito por medo, mesmo que não admitam nem para si mesmos.
Sou do time que crê que, cedo ou tarde esse problema vai passar, mas acreditar que ele não vai deixar marcas, que tudo voltará a ser como antes é ingenuidade, faz parte dessa negação covarde que muitos insistem em manter consigo. As pessoas tem o direito de terem suas próprias opiniões, oras, eu quero ter as minhas, então quem sou eu para negar aos outros que tenham as suas, contudo as coisas são relativas e muitas vezes a realidade nos esfrega algo tão forte na cara que, negar essa coisa se torna bem ridículo. Pessoas estão morrendo aos montes pelo mundo todo, novos casos continuam surgindo e essa nova realidade, que como já disse há de passar tem deixado as pessoas tão apavoradas que elas tem reagido das formas mais bizarras, muitas vezes com raiva. Independente de tudo isso ser um plano maligno magistralmente arquitetado por um governo opressor, um jogo político ou seja lá no que você acredite, a questão é que esse vírus existe e até que criem uma vacina ele vai continuar existindo. Goste você ou não disso tudo, acredite você no que acreditar, se proteja e proteja os seus. Pode ser que você ache que tudo é uma invenção política, pode ser que você ache desnecessário todo esse alarmismo, talvez você não esteja usando máscaras, não esteja lavando as mãos nem diminuido o contato social e ainda assim passe por isso ileso, mas como muita coisa na vida esse caso é como a brincadeira de roleta russa. Você se arrisca e a arma pode disparar ou não, mas independente do resultado o simples ato de se arriscar é uma coisa bem idiota.

0 Divagações

Muito obrigado por comentar. Sendo contra ou a favor de minhas opiniões, as suas são muito interessantes para mim. Tenha certeza!