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Sobre pulmões explosivos, portfólios atualizados, realidades paralelas e jardins mortos

sexta-feira, 8 de abril de 2022

De comum acordo, minha mãe e eu continuamos sem nos falarmos desde nossa última discussão há mais de um mês, ocasião na qual ela disse que estava desistindo de ser minha mãe, que nunca mais viria em casa e que jamais precisaria de minha ajuda ou meu dinheiro novamente.
De lá pra cá os ânimos se acalmaram, de minha parte porque, estou tão cheio de coisas pra fazer e pensar, tanto no trabalho quanto nas aulas de Pós-graduação, que tenho direcionado minha atenção maior para esses assuntos. Claro que continuo constantemente pensando nela e em como ela está, não por preocupação, mas porque sou obrigado, já que ela arruma um problema atrás do outro, geralmente envolvendo falta de dinheiro, mesmo, ainda que, assim como minha tia, receba seu benefício mensal do governo. Da parte dela, porque em verdade ela sabe que não pode cortar relações comigo nem com minha tia, pois precisa de nossa ajuda em diversos aspectos. Não tendo controle emocional nem financeiro, está sempre gastando o dobro do que ganha e por conta disso, fazendo dívidas em todos os cantos, tendo de recorrer a mim e minha tia para ajudá-la na compra de comida e remédios. Sinceramente não estou aguentando mais, não a suporto e nem ao seu comportamento prepotente, ingrato e agressivo. Uma pessoa capaz de te ofender, menosprezar suas capacidades e cinco minutos depois implorar chorando por ajuda, dizendo que te ama mais do que tudo. Eu só consigo me sentir cada dia mais cansado, furioso e com vontade de desaparecer para sempre.

Recentemente, num rompante de ansiedade decidi atualizar o meu portfólio, o qual já estava abandonado há um bom tempo, pois profissionalmente não tenho desenvolvido nenhum projeto de destaque ou relevância, se é que algum dia já fiz algum. Não me considero um profissional, na verdade me vejo como um ser humano medíocre e um designer sem talento algum. No Centro Universitário onde trabalho tudo o que faço são trabalhos repetitivos e rotineiros, medíocres como eu, talvez seja o que eu mereça por não ter motivação alguma na vida e nem força de vontade para correr atrás de nada. É como diz aquele velho ditado: “Colhemos o que plantamos” e faz tempo que o meu jardim morreu. Tenho acordado todos os dias sem qualquer vontade ou ânimo, trabalhado do mesmo jeito e indo deitar com uma sensação de vazio profundo. Sinto que mais dia, menos dia minha vida vai acabar e eu não terei vivido nada, quase sem amigos, sem nunca ter experimentado o amor e com um catálogo gigantesco de erros. Não penso em me matar, o que particularmente considero um sinal positivo, todavia não tenho, como já disse, ânimo para correr atrás do que quero. Em verdade, mesmo agora beirando os 46 anos, não faço a menor ideia do que quero pra minha vida. Talvez só desaparecer pra sempre. Já que aparentemente vou morrer sozinho, talvez viver sozinho fosse uma boa opção.

Meus únicos momentos de paz verdadeira são quando estou dormindo e mesmo assim, só tomando meus calmantes fitoterápicos e meus chás, que são o que me fazem conseguir dormir bem e principalmente sonhar. Não me lembro muito bem do que sonho assim que acordo de manhã, mas tenho vagas lembranças e isso me relaxa, pois é como se eu tivesse visitado outros mundos, uma realidade paralela cheia de possibilidades onde sou capaz de tudo, inclusive voar.
Quando era mais novo e consequentemente com menos preocupações, sonhava todas as noites e conseguia me lembrar de todos os meus sonhos. De alguns deles lembro até hoje, nem todos bons, mas pelo menos eram diferentes da minha vida. Hoje, com toda a correria do dia a dia e as preocupações, não só com minha vida, mas também com a da minha mãe e minha tia, praticamente não sonho mais e quando sonho, eles são apenas uma repetição distorcida da minha rotina enfadonha ou assuntos mal resolvidos do passado.

Tendo aulas praticamente todos os sábados, aos domingos fico louco para me distrair um pouco, passear, ter companhia, conversar, mas isso não acontece, geralmente fico preso em casa me sentindo sufocado, como se meus pulmões fossem explodir. Vez ou outra junto forças com muito custo e vou pedalar um pouco, mas ainda assim me sinto extremamente solitário e vazio. Dou umas voltas, volto pra casa exausto e nada satisfeito, tomo um banho e cinco minutos depois já estou passando mal, ansioso por um passeio ou qualquer companhia que seja. Se vejo que tem algum filme que me interessa passando no cinema, me arrumo e vou, mais por falta de algo melhor pra fazer do que por quaisquer outros motivos, mas quando não posso contar nem com isso, tudo o que me resta é ficar preso em casa, indo e voltando dentro de três cômodos e pensando no quanto gostaria de desaparecer e deixar tudo e todo mundo para trás.

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